quarta-feira, 14 de julho de 2010

Magoma – início

Hoje nos mudamos, Kristina e eu, para Magoma. Trouxemos alguns mantimentos que compramos no mercado de Korogwe, apenas para os primeiros dias, alguns utensílios domésticos. A viagem levou cerca de 1h10, nós duas, Sam, Jesse, Kanon Komba e sua esposa. Antes de sair, tomamos um copo do melhor suco do mundo, que a esposa do Kanon Komba faz com maracujás, mangas e abacates.
Tenho certeza que minha pobre descrição não dá nem a mais simples idéia do quanto o suco é delicioso. E isso vindo de uma pessoa que não gosta de manga nem de abacate.
As viagens de carro têm sido sempre divertidas. Hoje Sam e Kristina dormiram sentados e bateram cabeças, um no outro, no meio de uma curva. Gargalhadas garantidas.
Havia um grupo de pessoas nos esperando em Magoma: Maria (que está nos recebendo em sua casa), Faith (que é a dona da casa e vive na casa ao lado), Zen Francis (bem velhinho e uma simpatia, líder comunitário – zen é a palavra em Swahili para designar o mais velho), Christopher (outro líder comunitário) e Bruno (está estudando para se tornar professor e fala um ótimo inglês).
Foi maravilhoso chegar em casa, pudemos arrumar nossos quartos e espalhar nossas coisas. Eu e Kristina ficaremos em quartos separados, o que nos dá um pouco de privacidade e algum espaço, já que estaremos juntas todos os dias pelos próximos meses. Pude espalhar pelo quarto diversos presentinhos que ganhei para trazer e tornar meu cantinho bem pessoal. Minha canga da bandeira do Brasil virou um tapete em baixo da janela e enchi a parede de post-its com palavras em Swahili que preciso aprender. Basicamente estou etiquetando todos os objetos, para aprender seus nomes, e colocando também nomes de vegetais e expressões importantes.
Neste momento estou deitada na cama, embaixo da tela-mosquiteiro que recebi como doação. Aqui vale uma propaganda mais do que justa: recebi tubos de repelente e a tela-mosquiteiro como doação da Exposis. Foi uma doação inesperada, pois os contatei pelo formulário de contatos do website após a médica do viajante do Hospital das Clínicas ter recomendado especificamente esta marca de repelente e tela. E recebi uma resposta muito gentil, que se tornou posteriormente uma doação. Esta tela, além da proteção física contra os mosquitos, tem um repelente impregnado que realmente afasta qualquer inseto. E o repelente é fantástico, o aplico pela manhã e só preciso reaplicá-lo à noite (dura 10 horas).
O jantar foi na casa do Christopher. Ele e Bruno vieram gentilmente nos buscar e nos conduziram até sua casa, onde almoçamos os quatro, a esposa do Christopher e seus três filhos. Não existe qualquer tipo de iluminação nas ruas e a maior parte das casas tinha luz de velas, incluindo a casa do Christopher onde jantamos a luz de lampião. O cardápio foi arroz e peixe cozido com batatas. O peixe é pescado em um lago perto daqui, que estou ansiosa para conhecer. Eu tinha uma ingênua intenção de, quem sabe, nadar no lago, mas aparentemente há muitos crocodilos por lá. Melhor guardar a natação para quando voltar ao Brasil :S
A casa em que estamos tem eletricidade e é, provavelmente, uma das casas mais ajeitadas da vila. Ainda assim não há água na pia ou no chuveiro, banhos de balde e canequinha me aguardam pelos próximos 6 meses. Parte da diversão :)
Amanhã pela manhã teremos uma reunião com os líderes comunitários, às 9h00 - Zen Francis virá nos buscar. Hora de descobrir tudo que pudermos sobre Magoma, conhecer as pessoas, nos inserir na comunidade. E arregaçar as mangas para garantir que daqui a 6 meses exista um projeto consistente caminhando por aqui.
Uma coisa que vale dizer é que Andrew, americano super doce da equipe Lutindi, estava me dizendo o quanto para ele é um choque de realidade ver a vida na Tanzânia. Não deve ser fácil para alguém que vive no país que consome mais da metade de todos os recursos, tem máquinas pra tudo, alimentação baseada em comida industrializada e milhões de americanos comendo quantidades super-size de comida de repente se deparar com essa outra realidade. E mesmo para uma brasileira, a realidade às vezes providencia alguns tapas na cara. Ver as pessoas preparando sua melhor comida para nos receber em suas casas super simples, nos dizendo “karibuni”, confiando na nossa presença para construir um projeto que melhore um pouquinho suas vidas é ao mesmo tempo enriquecedor e comovente.
A bola está rolando...

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