quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lutindi

Acompanhamos a equipe de Lutindi a Lutindi no domingo. Foi divertidíssimo porque não há transporte para Lutindi e tivemos que alugar um caminhão, no qual fomos todos em pé na caçamba com a bagagem no meio.
A estrada é linda, se parece com a subida da terra da Mantiqueira, o friozinho chegando com a mudança de altitude. Alex e Lindsay foram preparadas para ficar, mas Andrew teve que ficar mais um dia em Korogwe porque ainda não estava recuperado e estava tomando um antibiótico.
Chegamos na hora da missa. 98% de Lutindi é formada por católicos e assistimos quase duas horas de missa em Swahili sem que eu entendesse uma palavra do que estava sendo dito. Minha parte favorita foi, é claro, a dança. O coral canta e dança, quase uma coreografia de axé. Confesso que o coral luterano foi mais divertido porque as coreografias e as músicas eram mais alegres, mas o coral católico também ajuda a quebrar a sisudez da missa.
John Mtambo, meu herói sempre, foi convidado a falar sobre nós no meio da missa e explicar nosso projeto. Logo depois da missa há um leilão no quintal da igreja e todos nós nos apresentamos para a comunidade. Consegui falar 5 frases completas em Swahili - tento acrescentar uma nova frase a cada apresentação que faço.
A parte estranha das apresentações foi ver as mulheres todas juntas na lateral e os homens todos juntos na frente. A maior parte das pessoas falou apenas para os homens e por isso tentei me lembrar de virar diversas vezes e olhar para a mulherada sorridente.
Também encontramos uma família de alemães, vivendo em Lutindi há dois meses e pelos próximos 3 anos. Isso porque Lutindi tem um hospital psiquiátrico que foi montado ali durante a colonização alemã e que é até hoje administrado por alemães. Demos uma volta para conhecer o hospital, toda a paisagem é deslumbrante e existe um pequeno curral, com algumas vacas e porcos; algumas salas para workshops de tear a artesanato; uma grande cozinha em que pelo menos uma vez por semana se faz um almoço comunitário, para dar a oportunidade a todas as pessoas da comunidade de comerem carne semanalmente; um pequeno armazém.
Vimos alguns camaleões nas árvores, mudando de cor, mostrados pela filhinha do casal alemão, 8 anos.
Almoçamos na casa em que a equipe ficará sediada. Um almoço delicioso de shapati (uma espécie de panqueca frita), arroz, feijão e verdura. Aliás, nunca comi tanto arroz com feijão como tenho comido aqui. Tudo preparado pela esposa do Sr. Dismess, homem de múltiplas habilidades e simpatia infinita que será a peça fundamental para a equipe.
A comunidade nos convidou para uma pequena reunião e fomos para a sede dos líderes comunitários, uma casa de pau-a-pique com uma mesa e diversos bancos. Alguns senhores bem velhinhos vieram nos receber, comovente. Aqui sempre há reuniões de apresentação.
O passeio pela plantação foi super agradável. Pés de tomate, cenoura, de uma planta de flores cor-de-rosa que funciona como repelente natural e de outra que funciona como inseticida natural (vimos centenas de mosquitos mortos sob as plantas, impressionante). O momento constrangedor aconteceu quando a Lindsay estava passando de uma área para outra (são como quarteirões de plantação separados por ruas alagadas) e se estabacou no chão. E só estou descrevendo este momento aqui porque tenho certeza que vou passar por uma situação tão ou mais constrangedora em breve já que sou craque em tomar capotes. E quando pagar meu mico também o tornarei público, palavra de honra.
O sol já estava baixando quando subimos na caçamba para voltar a Korogwe. Descer a serra foi tão lindo quanto subir, paisagem deslumbrante e um friozinho noturno que não sentia há algum tempo.
Tenho a sensação que a equipe de Lutindi terá a chance de montar um projeto fantástico. É um pouco precipitado dizer isso, mas acredito que naquela comunidade o principal desafio não é a segurança alimentar, pois como não se trata de uma região seca, há bastante variedade de cultivo. Acho que o desafio será transformar os produtos em opções rentáveis, que possam ser comercializadas e transportadas aos mercados. Há um saco de chá, feito no hospital psiquiátrico, fantástico. Eles usam os tecidos coloridos que sobram da produção de roupas e o produto final é distribuído com uma embalagem extremamente atraente.
De qualquer forma existe uma equipe bastante capacitada para analisar e situação de Lutindi e montar o projeto. Desejo a eles toda a sorte do mundo.

Pp. John Mtambo, como não podia deixar de ser, foi em pé na caçamba do caminhão junto conosco a Lutindi. Tentamos oferecer a ele o assento na cabine, mas ele se recusou a perder a diversão. Meu herói :)

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