quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Assistam o vídeo do projeto e conheçam os estudantes, vejam como é Magoma e divirtam-se com nossa plantação de melancias!

Primeira venda de melancias


Terça-feira foi um grande dia. Mzee Francis me ligou exigindo a minha presença na casa do Sr. Mbazi (o oficial de agricultura) com urgência. Eu fiquei preocupada pensando qual seria o problema e corri para lá.

Semana passada eu contei as melancias, 1082 frutas desde as pequeninas até as grandonas. Babu (meu jeito de chamar Mzee, avô) e eu estávamos discutindo a melhor estratégia para colheita já que esperar até que os pequenos frutos atinjam tamanho comercial nos faria perder as frutas grandes. Concluímos que a melhor solução seria colher e vender duas vezes (pelo menos).

Cheguei à casa do Sr. Mbazi e encontrei Mwalimu Mkuu sentado me aguardando. Meu coração quase saiu pela boca ao ver quase todos reunidos (Sr. Bodo havia ido a uma vila vizinha resolver o problema da eletricidade – alguém roubou os fios de cobre e como o poste de luz é antigo a pessoa caiu com poste e tudo e agora não sabemos se machucou ou morreu). Só quando Babu disse não haver nada errado me acalmei.
Aparentemente, um dos compradores de Korogwe (principal vila perto de Magoma) estaria por perto com seu caminhão, coletando melancias de outros agricultores. Eles estavam pensando em aproveitar a oportunidade e vender as melancias grandes.

As borboletas se manifestaram no meu estômago, imediatamente, muitos sentimentos misturados: nós plantamos as melancias para isso, vender e conseguir dinheiro para o programa de merenda escolar, momento emocionante. Ao mesmo tempo eu estava preocupada em garantir que o processo de colheita e pesagem aconteceria corretamente. E comecei a fazer contas na minha cabeça para verificar se o preço oferecido era justo (eu fui ao Kariakoo em Dar es Salaam, o maior mercado da Tanzânia, e tinha os preços oferecidos pelos compradores de lá). Confesso que no meio de tudo isso veio um sentimento bobo, a tristeza ao assistir meus "bebês-melancia" indo embora (eles dominaram minha rotina diária, meus pensamentos e meus sonhos - literalmente - nos últimos três meses
).

Este comprador de Korogwe comprou as melancias de todos os produtores de melancia da região. Se chama Arama Matikiti (matikiti significa melancias em Kiswahili). Ele pagou TSH300,00/quilo (US$ 0,02/quilo). Nós vendemos 900 kg, cerca de 300 frutos, e recebemos TSH270.000,00 (US$187,50).

Eu sei que não é uma quantidade impressionante de dinheiro. Eu sei que muitos de vocês vão pensar "tanto trabalho por US$187,50?". Mas tente traduzir esta quantia para a realidade de Magoma, uma vila de terra vermelha e banhos de caneca perdida em um canto da Tanzânia.
Nós ainda temos cerca de 700 melancias na shamba, crescendo para chegar a um tamanho comercial. Nós ainda temos pimentões e berinjelas africanas (estão florindo, primeiro sinal de frutas). Nós ainda temos um longo caminho a percorrer para garantir a sustentabilidade do nosso projeto sustentável.

Magoma é um lugar fora do mapa. Muitas coisas podem dar errado aqui, é por isso que a região vem enfrentando muitos problemas desde sempre.
Estamos trabalhando para mudar essa realidade. Estamos trabalhando para permitir que as pessoas cresçam em tamanho e perspectivas. US$ 187,50 não é uma quantia enorme de dinheiro. US$187,50 pode alimentar 30 alunos na escola por um ano. US$187,50 é um começo.

Pp. Quando o caminhão partiu para a Korogwe, Babu disse "esta noite vou dormir como criança e ter bons sonhos. Pela primeira vez em muito tempo não vou estar preocupado com as matikiti durante a noite". Aparentemente eu não era a única sonhando com as matikiti...

PP1. Assim que o caminhão seguiu para a Korogwe levamos a bomba de irrigação para a shamba. O trabalho continua e os sonhos tranqüilos tiveram que esperar até estar escuro demais para ver uma pessoa a 10 centímetros de distância sem uma lanterna.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Karibu 2011!

Ano novo, vida nova. Ou vida velha?
Minha virada de ano foi diferente de todas as outras e combinou com meu ano maluco. Comemorei sozinha. Senti-me sozinha, mas debaixo do mesmo céu que as pessoas que amo. Estive sozinha sem estar sozinha. Estive longe do mar. Tive a chance de começar o ano duas vezes.

2010 foi um ano cheio de significado, não foi um ano fácil.

Algumas coisas novas que espero para 2011 vão se misturar a coisas velhas.  Fico em Magoma mais seis meses (vida velha). Fico em Magoma sozinha (vida nova).

Ano após ano nos enchemos de esperança e fazemos novos pedidos. Tinha três fitinhas do Senhor do Bomfim no meu braço com nove pedidos. Não lembro o que desejei, costumo brincar dizendo que pelo tempo que estão aqui devo ter desejado a paz mundial.
Em 2010, uma das fitinhas caiu aqui em Magoma. Os desejos? Não faço idéia, mas ainda carrego seis deles comigo.

2011 marcará minha busca por equilíbrio. Sempre fui uma pessoa de extremos: pra que dirigir a 120km/h se podemos dirigir a 160km/h? Em Magoma meus extremos se acalmam porque quero fazer o melhor para a comunidade. Quero ser o melhor para a comunidade.
Em 2011 quero correr (quase) todas as manhãs ao nascer do sol, quero dançar sozinha na sala até cair de cansaço (tá bom, até cansar um pouquinho). Quero colher melancias gigantes (essas têm que ser gigantes mesmo) e doces. Quero ver os estudantes aproveitando a oportunidade que estamos oferecendo. Quero tomar chuva, quero me encharcar (me molhar um poquinho...) carregando as mangueiras de irrigação. Quero curtir as saudades e aprender mais KiSwahili. Quero aprender Kisamba. Quero falar português (e ler em português). Quero falar espanhol e alemão. Quero ficar sozinha (sem vizinhos na janela e patos no jardim – será que consigo?). Quero estar com as pessoas de Magoma.

Quero dosar o que esperam de mim com o que tenho a oferecer. Quero que me entendam como diferente (indivíduo) e semelhante (pessoa). E esqueçam a cor da pele porque não faz a menor diferença.

Metade de mim agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
De outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim.

Quero chegar no fim, mas quero trilhar um caminho bonito até ele. Quero mais do que o fim, quero um meio de crianças sorridentes, melancias doces, chakula cha mchana (almoço na escola) e uma Magoma diferente.
Quero alguns extremos pra dar graça, mas sem exagero =)

Ah! Quero que minhas fitinhas do Senhor do Bonfim caiam do meu braço. E que venha a paz mundial!