Os últimos dias foram ótimos. Domingo eu usei a longa missa para, discretamente, estudar Swahili. Mas todos foram tão atenciosos conosco que deu até para entender parte das preces - estavam sempre chegando explicações e bíblias em inglês.
E fomos apresentados na igreja, para todo mundo. Interessante ir até o meio da nave e dizer quem somos, porque estamos aqui e tudo mais. As correspondências também são distribuídas na missa.
Lembro sempre da Regiane que dizia, quando estava grávida, que as pessoas achavam que ela era o Buda (quando todos tentavam tocar sua barriga). As pessoas aqui querem tocar nas mzungu, estão sempre buscando uma razão para isso. Me sinto a Miss Brasil de tanto acenar para todos os lados.
São todos prestativos, carinhosos e, acima de tudo, curiosos.
Como brasileiros, povo miscigenado por natureza, não sei se vocês conseguem ter uma idéia do choque que é ser mzungu aqui. As pessoas vêem diferença de raças 100% do tempo sendo que eu não vejo essa diferença. Eu nunca me senti mzungu e continuo não me sentindo, tenho referências brancas e negras que são parte integrante da minha vida.
Depois da missa fomos levadas à casa da Bibi (avó) e ela tinha preparado café da manhã pra gente, chai (chá) e mandazi (parece um bolinho de chuva, mas sem o açúcar e a canela). Bibi e Babo são deliciosos, super carinhosos. E a comadre da Bibi se tornou nossa segunda Bibi, doidinha de tudo e sempre querendo nos agradar.
Fomos ao mercado, que é a feira livre semanal. As pessoas caminham de todos os vilarejos para vender seus produtos aqui - como uma feira livre brasileira, mas tudo acontece no chão.
Compramos alguns vegetais e observei um pouco como as coisas acontecem. Fiquei surpresa, pois o volume de vendedores é bem grande. A feira tem comida, utensílios e roupas e ocupa toda a área central do vilarejo. Difícil mensurar o volume de dinheiro negociado ali, não estou segura de que todas as pessoas que expõem seus produtos conseguem vender alguma coisa. Mas, de qualquer forma, foi bem mais movimentado do que eu esperava.
Depois fomos pra Korogwe encontrar todo mundo e celebrar o aniversário do Andrew (The Lutindi Project). O ônibus demorou 2h15 para chegar a Korogwe e foram 2 horas bem movimentadas, um entra-e-sai, o ônibus lotado de pessoas, crianças e coisas e todo mundo compartilhando tudo, de comida a crianças – vim com um menininho no colo o caminho todo.
Rever o pessoal de Lutindi e Korogwe foi maravilhoso. Estávamos todos sentindo falta uns dos outros e foi extremamente confortável comer uma refeição completa e cheia de temperos preparada pela irmã do Yakub. Trocamos experiências e idéias, conseguimos acessar a internet, comemos bem – e ainda tomei uma cerveja.
Uma coisa que acontece aqui, e que vivi um bom tempo trabalhando no acampamento, é que não há distinção entre vida pessoal e profissional. Estamos trabalhando todo o tempo e recebendo pessoas em casa. Também estamos sendo avaliadas todo o tempo, não há pra onde correr.
A volta para Magoma foi na segunda-feira, no mesmo ônibus movimentado, mas um pouco menos lenta.
E esta semana realizei vários desejos. Tomei uma água de coco (e comi o coco) na casa da vizinha; cozinhei uma berinjela que, modéstia a parte, ficou deliciosa; carreguei um bebê nas costas à moda africana (Dastani, filho da vizinha). Hoje fomos ajudá-la a cortar lenha bem cedinho e carreguei a lenha na cabeça morro abaixo.
Falando sobre trabalho, ontem tivemos uma reunião muito interessante com a World Vision / ADP, ONG que trabalha aqui há 10 anos. Deram-nos um panorama bem interessante das iniciativas que coordenam e das dificuldades de trabalhar aqui. Teremos uma nova reunião, em breve, com o coordenador de segurança alimentar.
Hoje vou me apresentar ao Shehe, responsável pela mesquita. Torçam pra que eu me comporte da maneira devida, não conheço os protocolos. Depois conto como me saí.
E temos uma manifestação de senhorinhas tocando tambores nos esperando mais tarde. Ontem as filmei e hoje me chamaram para filmar novamente, super divertido.
Assim segue a vida em Magoma :)
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