A que horas é possível correr em uma vila em que as pessoas sentam para assistir as wazungu (brancas) lavando roupas e malhar é palavra ausente no dicionário?
Para responder a esta pergunta tenho acordado às 5h30 da manhã todos os dias. O corpo funciona cheio de energia, despertando antes do alarme, desde que sentiu o gostinho da corrida ao nascer do sol.
Correr é engraçado. Eu odeio correr, sempre odiei, mas sempre corri esperando o dia em que vou sentir aquele click, aquele que todo maratonista menciona, e me sentir flutuando.
Não, este click não foi ouvido em Magoma (será que tenho que correr 42 km ou sou surda mesmo?).
Mas correr tem me feito um bem sem fim: sinto-me livre, sinto-me jovem; pronta para enfrentar qualquer desafio – endorfinas provando a teoria dos gurus da malhação.
Ontem estava correndo até Songea (próxima vila, 5 km). O fôlego estava faltando, mas pensei “só vou andar depois daquela árvore”. Foi quando ouvi “Pole sana!” (sinto muito). A árvore ficou muito longe, eu estava gargalhando! Duas mamas (mulheres adultas) estavam a caminho da shamba (fazenda de subsistência) e sentiam muito pelo meu esforço :S
Magoma fica no vale entre duas montanhas, uma mais baixa, a outra mais alta. Vamos escalar a primeira montanha depois de plantar e planejamos escalar a segunda depois da colheita (qualquer simbologia não é mera coincidência).
O sol nasce atrás da montanha mais alta e é um espetáculo ver tudo mudando de cor. No mesmo dia do “pole sana” três Timão cruzaram a trilha (não, o Pumba não estava presente).
Não consigo pensar em nada que eu odeie tanto e me faça sentir melhor.
Eu amo odiar correr todas as manhãs!
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