sábado, 21 de abril de 2012

Tabora ya Korogwe – baldes que carregam nutrientes


Tabora é o nome de uma grande cidade aqui na Tanzânia, longe de nossos projetos, e de uma pequena vila perto de Korogwe, que esconde uma população Zigua, tribo de língua complicada, e duas coordenadoras de projeto, Rachael e Ros.

Tabora ya Korogwe, como chamamos a vila para diferenciá-la da cidade, tem menos de 2000 habitantes e nos surpreende pelo quão politizadas as pessoas são. Há alguns meses, descontente com a administração, a população trancou a sala que abriga a sede municipal (representada por um executivo denominado pelo governo e um administrador eleito pela vila) e simplesmente impediu que os dois trabalhassem. O cadeado se mantém na porta e sem administração oficial, Tabora se tornou nossa vila anárquica.

Rachael e Ros formaram um grupo de care-takers, conceito que usam para designar as pessoas que tomam conta de crianças e são responsáveis pela sua nutrição. Como a Tanzânia é uma sociedade bastante tradicional (e patriarcal), normalmente quem toma conta das crianças são as mulheres, mas ainda assim as coordenadoras preferem usar o termo care-takers porque gostam de deixar a porta aberta para homens que (quem sabe um dia?) queiram assumir o papel. O grupo atualmente tem seis mamas (mães) que estão aprendendo a melhorar a nutrição de seus filhos através do cultivo, em pequenos jardins atrás de suas casas, de frutas e vegetais. A produção não é destinada à venda, mas contribuirá para o aumento do poder aquisitivo das pessoas já que cada tomate colhido do jardim significa uma economia de pelo menos TZS100. Haba na haba, hujaza kibaba (a versão em Swahili para “de grão em grão a galinha enche o papo”).

O Projeto Tabora começou em ritmo lento, mas desde que os treinamentos em nutrição começaram as mamas tem se mostrado mais ativas e algumas já começaram a colher frutos de seus jardins. As técnicas de cultivo integram conceitos de permacultura e ideias criativas para reuso de água, plantio de espécies complementares, e uso de garrafas que seriam consideradas lixo, mas que mantém a humidade do solo.

Eu estive esta semana em Tabora para o último treinamento e despedida de Rachael, que está voltando para os EUA. Foi necessário algum esforço para garantir que nossa facilitadora, que chamamos de Bibi Lishe (Senhora Nutrição), comparecesse. Ela havia cancelado sua participação, mas uma ligação ressaltando a importância de sua presença e algum trabalho na logística de trazê-la para a vila mudou sua decisão (o segredo é nunca aceitar um não como resposta).
Cozinhamos todas juntas uma porção de verduras, ressaltando o valor nutricional das folhas escuras, prestando atenção especial ao tempo de cozimento e à melhor maneira de garantir que os nutrientes “viajem” do jardim ao prato. O almoço nutritivo foi servido em uma bandeja, ao estilo tanzaniano, com uma porção de ugali de dona (pasta de milho menos branca e mais rica em fibras por usar farinha processada apenas uma vez, ao invés de duas como os tanzanianos preferem). A cada pedaço arrancado do monte de ugali, uma porção um pouquinho maior que o normal de verdura foi adicionada ao bolinho. E o corpo foi agradecendo a tão rara nutrição a cada mordida.

Hoje em Tabora, os jardins crescem nos baldes. E os baldes, mais do que água, carregam nutrientes que enchem os pratos das crianças.


Para saber mais sobre o Projeto Tabora (em inglês):

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