Esta temporada de despedidas tem me levado a rodar bastante para visitar todos os nossos projetos, falar sobre a transição com nossos parceiros e criar momentum para motivá-los a seguir em frente e buscar resultados. O discurso se repete: nosso destino é uma vida melhor, mas para chegar lá temos que abrir a trilha e seguir sempre em frente, sem andar para trás nem se perder. Estamos juntos neste caminho.
Ontem fui à Bungu, uma de nossas vilas nas montanhas (a outra é Lutindi). A belíssima vila parece um retiro espiritual que esconde excelentes agricultores, hábeis para plantar em penhascos inclinados e para usar as nascentes de água para irrigar suas plantações. Mas ainda que pela descrição e pela paisagem Bungu pareça uma vila cheia de recursos, as montanhas também escondem pobreza.
O clima temperado de Bungu atrai muitas ONGs, que veem nas montanhas uma relativa facilidade para trabalhar e fazem promessas que muitas vezes não são cumpridas. Uma das cenas mais chocantes da Tanzânia são as pilhas de recursos desperdiçados que se amontoam em tantos cantos, dinheiro usado para comprar materiais que nunca construirão nada, ou máquinas que nunca serão usadas enquanto pessoas passam fome sem ter nada.
Muitos agricultores de Bungu decidiram, depois de perder tempo e energia com diferentes ONGs, não trabalhar mais com nenhuma organização. Dois destes agricultores estão em nosso grupo em Bungu.
Semana passada, Abby, Pei e Jessica, as coordenadores de projeto de Bungu, decidiram perguntar a estes dois agricultores o por que de, não querendo se associar a qualquer ONG, eles estavam trabalhando conosco. E a resposta imediata foi: porque vocês estão aqui todos os dias. E formaram um grupo de excelentes agricultores dispostos a correr riscos para alcançar resultados.
A principal diferença do modelo 2Seeds está nos relacionamentos, baseados em confiança, que somos capazes de formar com nossos parceiros. Em Bungu, nossas coordenadoras carregam baldes de água na cabeça montanha acima, sobem e descem ladeiras diárias para visitar todas as vilas e ouviram, de cabeça e coração abertos, os desejos dos agricultores. Deste trabalho nasceu um pequeno e promissor grupo, que recebeu treinamentos em negócios, conceitos básicos de economia e tomada de decisões. Nós não dissemos aos agricultores: você agora faz parte deste grupo. Nós dissemos: nós vamos te oferecer treinamento e informação para que você decida conscientemente se quer trabalhar conosco. Dos doze agricultores convidados inicialmente, um decidiu que o grupo não atenderia suas expectativas.
A despedida de Abby e Jessica, que partem em uma semana (Pei fica até junho) foi animada por muita música e pilau (arroz com especiarias que é sinônimo de festa na Tanzânia). Belos discursos, algumas lágrimas e muitos sorrisos celebrando os primeiros passos de um projeto que, acreditamos todos nós, nos levará longe.
Para saber mais sobre o Projeto Bungu (em inglês):
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