terça-feira, 17 de abril de 2012

Kwakiliga – a água que (só) se vê nos olhos


Kwakiliga é o nosso mais antigo projeto, começado em 2009 por Sam (o diretor de desenvolvimento de projetos que trabalha comigo) e Jesse (arquiteto formado por Stanford que não faz mais parte da organização).

Por uma sucessão de razões, incluindo o fato e que começamos em Kwakiliga antes de a organização estar conceitualmente formada e ter a experiência necessária para formar projetos sólidos, muitos projetos foram iniciados e descontinuados em Kwakiliga sem que resultados concretos fossem obtidos. Conscientes disso, esta temporada decidimos consolidar o grupo de agricultores com o qual trabalhamos, que chamamos de Kikundi (grupo em Swahili), mantendo apenas os participantes dedicados ao grupo e dispostos a tomar decisões coletivas e seguir um caminho comum. E fomos muito cautelosos ao planejar nossos próximos passos.

Domingo fui visitar Kwakiliga e passar a noite sob a brisa e a escuridão da vila de terra vermelha. Quase todos os membros do grupo compareceram (e chegaram pontualmente) à reunião semanal, que além de servir para a troca de informações foi a despedida de Sarah, uma das coordenadoras de projeto que mora na vila e que volta aos Estados Unidos no final do mês.

Passamos os últimos nove meses trabalhando com nossos parceiros de Kwakiliga no desenvolvimento do plantio de girassol. Treinamentos, pesquisa de mercado, projeções de lucratividade e muito planejamento que agora espera pelas chuvas para se tornar real – estamos em meados de abril e as chuvas de março ainda não começaram.
Kwakiliga é seca, provavelmente a mais seca de todas as nossas vilas. Não há rio ou poço artesiano e a chuva tem sido mais inconsistente ano após ano. Nossos parceiros, pessoas muito especiais, são muito magros, têm a pele curtida de sol e mesmo trabalhando em terra dura permitem que seus olhos brilhem com a perspectiva do sucesso futuro.


As pessoas não choram na Tanzânia, acho que a vida já é muito difícil e as despedidas muito frequentes, com as baixas expectativas de vida e a necessidade dos filhos de se mudar para estudar ou trabalhar se desejarem ter alguma perspectiva.

Domingo, em Kwakiliga, a chuva não veio.

Domingo em Kwakiliga eu vi água brotar nos olhos dos membros do Kikundi e das coordenadoras de projeto pela despedida que se aproxima. Só me resta desejar que a água se multiplique e que os céus, compadecidos pelas lágrimas, chorem também e com suas lágrimas deem uma chance ao girassol para florir.


Para saber mais sobre o Projeto Kwakiliga (em inglês):

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