sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Um 2012 de escolhas para todos nós!
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Cabeça, alma e a Paz Mundial
sábado, 19 de novembro de 2011
As mudanças que chegam com o vento. O dentro que muda com a chuva.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
O "como" e o "o que"
domingo, 9 de outubro de 2011
Alma, carne, mundo
Estou a escrever do escuro no quarto do Econolodge, hotel em Dar em que já me hospedei tantas vezes que tem um "que" de casa. As pessoas me conhecem, desde o staff até os que moram na pequena rua que leva ao hotel, e as figuras desdentadas e pobres não me assustam, ao contrário, me aceitam.
Dormi o dia inteiro, sensação que em 1 ano e meio de Tanzânia tive pela primeira vez. Estou em Dar esperando o Sam, que está em Pangani com a namorada e me encontrará aqui na terça para que eu finalmente a conheça pouco antes da sua partida, fruto de infinitas conversas em nossas noites de trabalho. Então seguiremos para Korogwe juntos, na quarta, e ele me ajudará a carregar minha mala, que mal consigo levantar de tão pesada, cheia de comida brasileira e quitutes saudáveis que me ajudarão a encontrar minha forma perdida (e contentar minha alma saudosa).
Estou no escuro porque quero, desta vez temos luz aqui em Dar, e estava a ler o blog do Gonçalo, amigo português que conheci em Nairobi e que se aproxima do final de uma viagem magnífica pela África. Confesso que sempre que leio seu blog sinto as formigas se mexendo na sola de meus pés e tenho muita vontade de reaver meu espírito mochileiro e seguir o sol. Aí respiro fundo e me lembro porque estou aqui, vejo algumas fotos de Magoma (sim, ainda dona do meu coração) e me aquieto. A verdade é que não sei por quanto tempo conseguirei me aquietar, mas minhas Havaianas sem sola têm me mantido muito firme na busca desse meu destino.
A viagem ao Brasil foi incrível e comer pão de queijo (duro, depois de 2 dias de viagem) no quarto do hotel me traz à boca o sabor do meu país. A última vez que estive no Brasil foi estranha, eu não estava em um bom momento e foi uma viagem de despedida: de Magoma, da minha avó, do meu trabalho como Coordenadora de Projeto e de uma imagem que eu tinha na minha cabeça de como seria voltar pra casa depois de tanto tempo. Infantilmente criamos conceitos de sucessos e fracassos e esperamos que apenas os sucessos sejam vistos quando regressamos de uma experiência tão definitiva. Ao olhar para o espelho e ver os fracassos refletidos senti vergonha e quis me esconder.
Só que o crescimento que vim viver na Tanzânia me ensinou o valor dos fracassos no caminho do sucesso e o que significa aprender, nem na escola nem no livro, mas na alma, na carne.
O Brasil é minha casa, finalmente sinto isso depois dos últimos dez dias. É o país cuja bandeira me enche os olhos de lágrimas e cujos defeitos me irritam acima de tudo. É minha saudades, meu sabor, minha música. Minha alma de brasileira em um corpo que chacoalha sem medo.
A Tanzânia é o país em que cumpro minha missão, em que me fiz aceitar e sou lenda, mais do que sou eu. É minha flexibilidade e meu tapa na cara, onde eu sou menos importante pra mim mesma – no bom e no mau sentido.
Meu coração está, neste escuro quarto de hotel, em algum lugar entre os dois mundos. As saudades apertam, o dever chama e eu cresço enquanto me sinto pequena e me escondo enquanto me exponho.
Aqui sou alma, sou carne e sou mundo.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Graduação em Magoma
Brasil. Hoje foi meu último dia em Korogwe antes da viagem, amanhã
pela manhã vou pra Dar es Salaam para viajar no domingo. Hoje foi
também um dia muito especial e por mais cansada que eu esteja não
poderia deixar de dividi-lo com vocês.
Ontem choveu a noite inteira e hoje choveu boa parte do dia. Não
sabemos se o período curto de chuvas que deveria chegar em meio de
outubro veio mais cedo ou se toda esta chuva é um alarme falso e as
nuvens desaparecerão daqui a pouco. As pessoas estão correndo para as
shambas (sítios) para plantar já que muita gente (muita mesmo) não tem
comida em função das chuvas loucas que tivemos no começo do ano (a
chuva atrasou muito e quando veio foi demais e inconsistente).
Mas o que tornou o dia de hoje tão especial foi a graduação da 7ª
série em Magoma.
Eu havia me programado para ir à festa, que deveria começar às 10
horas, mas toda a chuva me deixou hesitante já que rios de lama
transbordam pela estrada em tempos de chuva. O resultado é que já eram
quase 10 horas quando me perguntei "você é uma mulher ou é um rato?",
montei Bwana Mtoto (carro da 2Seeds recém adquirido e recém
ressuscitado da oficina – nosso carro é velhinho, mas nós o amamos. O
nome significa Senhor Criança) e decidi encarar a estrada, confiante
na minha habilidade off-road. 45 minutos depois cheguei a Magoma, a
casa para qual eu tinha que ir antes de ir pra casa, e tive um dia de
felicidade em meio ao (delicioso) caos de Magoma.
A cerimônia que deveria começar às 10 horas estava atrasada (o que eu
esperava?) e eu tinha uma reunião com os coordenadores de projeto
greenfield aqui em Korogwe às 14h00. Às 13h00 vi uma sala de aula
simples e lindamente decorada (aproximadamente 3 horas de esforços dos
professores) e às 13h15 vi toda a decoração ser desmontada já que
aparentemente a sala era pequena demais para todos os presentes (ah
Tanzania...).
Enquanto isso os estudantes ensaiavam seus cantos vestidos em suas
melhores roupas. As meninas vestiam as saias laranjas (a maioria
emprestada) que são uniforme da escola secundária – algumas tinham
cabelos trançados ou pelo menos recém raspados. Os meninos vestiam
gravata com camisa social, muitos com sapatos lustrosos.
De todas as crianças que começam a escola, cerca de 50% se formam.
Deles, cerca de 30% devem ir para escola secundária e eu ficarei
surpresa se mais de 10% se formarem na escola secundária– queria muito
poder dizer que nosso projeto, 9 meses de idade, já é capaz de mudar
esses números, mas ainda temos muito trabalho pela frente pra colher
resultados diferentes.
A 7ª série da Kwata (escola primária de Magoma) teve força e garra pra
trabalhar com um sorriso no rosto, me ensinar Swahili e garantir
refeições na escola para 813 estudantes. Eles me inspiraram a cada
dia, me enlouqueceram incontáveis vezes, se encharcaram comigo
irrigando a shamba e calcularam lucro na aula de matemática. Crianças
como Henry Godfrey, as duas Marias, Aisha, Miriam e Issa me deram
motivos pra nunca desistir – eles nunca desistiram.
Bwana Mtoto saiu revigorado da viagem – se provou um carro pronto pra
encarar kijijini (vila). Eu saí emocionada da viagem desejando um
mundo de oportunidades para os estudantes que se despedem e um mundo
de esperança e garra para os que ficam. O projeto Magoma viu sua
primeira formatura (que venham muitas!) . As novas voluntárias tiveram
a chance de se apaixonar pelo projeto e de receber energia para
fazê-lo melhor.
Não são poucas as vezes que me pergunto "o que eu vim fazer aqui?". Em
dias como hoje a resposta é tão fácil que nem precisa de palavras pra
ficar clara.
Pp. Para fazer o dia ainda melhor eu também:
a) Visitei Crazy Bibi, a última avó que me restou (ainda que quase sem
dentes na boca), que amo com todo meu coração e apesar de velhinha
havia ido visitar sua filha (e consultar um médico – varizes e
glaucoma) em Morogoro (cidade a 6 horas de Magoma). O abraço que
ganhei de Crazy Bibi faz a vida valer a pena.
b) Conversei com Babu, meu avô com o qual falo todos os dias, mas de
quem sinto saudades todos os dias também.
c) Cheguei atrasada, mas participei da reunião com os projetos
greenfield aqui em Korogwe e pude trocar experiências com o barulhento
e alegre grupo de PCs.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Subindo e descendo montanhas
minuto de todos os meus dias. Não moro mais em Magoma e assumi minha
posição de Diretora de Desenvolvimento e Projetos em agosto. Agora são
9 projetos, 23 voluntários e 2 diretores aqui na Tanzânia. Estou
vivendo em Korogwe.
Escreverei mais de agora em diante e darei detalhes sobre cada
projeto, mas hoje quero me dedicar mais ao que tenho sentido do que ao
trabalho em si.
Ontem fui a Lutindi, vila que fica lindamente cravada no alto de uma
montanha. Desde a primeira viagem, ano passado com o time de Lutindi,
descer aquela montanha me faz pensar e me coloca a sentir as saudades,
a encarar as dúvidas, a lembrar os sonhos. Ano passado, o fim da tarde
escondeu as lágrimas que expunham as saudades de tudo que havia
deixado no Brasil, o medo e o frio na barriga, o susto por estar
realmente aqui.
Eu vim pra muito longe, mais longe que longe, fazer algo tão simples
como salvar o mundo – salvar um mundo. Parece coisa de filme quando
falamos assim...
Na parede do meu quarto em Korogwe pendurei minhas havaianas
sobreviventes de Magoma. A terra e o barro repuxaram a borracha, a
sola esburacou, o azul ficou meio branco e meio marrom. As havaianas
de Magoma me lembram quem eu sou, me lembram o que eu vivi e me
lembram por que estou aqui. As havaianas de Magoma são como eu na
Tanzânia: meio fora de forma, muitas cicatrizes do caminho adornando a
bandeirinha do Brasil e um cansaço que não se esconde, mas que não as
impede de estarem prontas pra mais um dia na shamba, pra mais uma
conversa em KiSwahili (ou KiSambaa), pra mais um pedra no caminho.
Prontas pra mais.
Na Tanzânia quando falta, falta, faz falta. Eu não sei muito sobre
muita coisa, mas aqui tenho que saber quem eu sou. E este eu é forte,
pra se encarar sozinho, pra entender as variações de sozinho, pra
viver sem. Tento inspirar as 23 pessoas que seguem meu caminho e às
vezes acho que consigo, às vezes falho. Na vida que escolhi, falhar é
cotidiano, é passo. Mas o vento que a moto joga no meu rosto também
lembra que no meio das falhas surgem os acertos e que no meio das
falhas eu não falhei quando vim pra cá. 813 crianças comem todos os
dias os frutos de 9 meses de falhas. Minhas falhas estão enchendo
barrigas há 7 meses. Que venham mais pedras.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Uma janela para um outro mundo: nem tão perto, nem tão distante, logo ali.
- Pessoas vindas de Mkwajuni, a vila mais distante que forma Magoma, curtiram 3 horas de festival mesmo tendo que atravessar o rio pra ir embora pra casa;
- Os senhores e senhoras de Magoma, alguns apoiados em bengalas, estavam lá;
- Mostrar Eu Tu Eles foi um momento especial para mim, que quis fazê-lo desde que cheguei a Magoma. As risadas veladas das mamas, únicas capazes de entender as entrelinhas das intenções sexuais do filme, foram deliciosas;
- O ahhhhhhhhh que Igor (um dos produtores do festival) e eu ganhamos ao parar Eu Tu Eles no momento da primeira cena de sexo mostra que Magoma também tem malícia;
- As risadas que cada beijo mostrado na tela arrancou da inocente platéia (as pessoas não beijam na Tanzânia);
- Pessoas me perguntando no dia seguinte sobre como a índia Naiá se tornou uma planta e como é essa planta (lenda da vitória-régia) mostra que a arte comunica sem palavras.
- A lua cheia fechou o cenário e iluminou o caminho de todos na volta pra casa.
Pp. Obrigada Cecília Queiroz, Estefania Chaves, Ronaldo Vieira, Igor Pirola, Sebastião Braga e Ramadham!