quarta-feira, 18 de maio de 2011

A água que sai do meu balde

Posso carregar o balde na cabeça, se treinar bastante. A ginga do meu quadril não alcançou meu pescoço, o balde não “assenta”, mas um dia vai (vai?). Faço planilhas no Excel, desenho logos e tenho um dicionário. Faço um quadrado com a mão direita enquanto a esquerda sobe a desce ao som de tirolirolá. Você equilibra o balde; eu danço samba.

A gente quer fazer o que o outro faz, quer se mostrar forte, quer saber e poder. Sim, eu consigo beber água suja sem ficar doente, aguentar os mosquitos sem pegar malária e tirar a sanguessuga da perna sem gritar a dar pití. Trabalho com a enxada (não tão bem como você), caminho na lama de chinelo (quase nunca caio) e consigo comer feijão com a mão (direita). Mas o mais legal deste tempo que estamos juntos é dividir, é ser diferente. Vim pra viver seu mundo e pra te mostrar um pedaço do meu.

Sim, sou mais branca que você (que saco!). Sim, falo várias línguas e viajei o mundo; tenho um MBA e estudei pacas. Se eu precisar posso cortar lenha e cozinhar sobre pedras, mas a verdade é que não preciso. Meu valor está no que eu sou; não nos baldes que carrego na cabeça. Seu valor está no que é; não na magreza do seu corpo e no ugali (pasta de milho) que te faz feliz exatamente do mesmo jeito todos os dias.

Não, eu não quero casar com você (ou com ele) e dificilmente vou levar alguém pro Brasil comigo (mais difícil ainda te levar pra Europa). Mas isso porque em outra dimensão minha vida também não é fácil; as decisões se sobrepõem e dominam os dias. A real é que neste momento não sei nem se eu vou pro Brasil ou pra Europa (ou pra qualquer lugar).

Você quer sair do seu mundo, eu quero achar o meu. Me joguei, me estabaquei, chorei, levantei, sonhei, mudei e decidi ser feliz (será que consigo?).
Assisti a fome do mundo. Comi a fome do mundo. Não consigo digerir a fome do mundo, tá pesando dentro de mim, me deixou gorda. Preciso fazer alguma coisa como preciso respirar.

Não quero ser expectadora, quero que você coma comida colorida todos os dias. Não quero ser expectadora, quero que você coma todos os dias. Quero te alimentar de esperança e de vontade de viver, quero que você se alimente, também de esperança, sem precisar de mim segurando a colher e fazendo aviãozinho (mas adoro fazer aviãozinho!).


Hey você aí do outro lado! Minha bandeira não é azul, vermelha e branca, meu coração não pula com seus presidentes (nem com os meus). Não gosto de guerras, não entendo o que te move. Preciso?
Discordo dos prefixos e das diferenças que se enfatizam pelo aparente, me alimento das diferenças de alma. O que te move é diferente do que me move e ainda assim nos movemos juntos.


Minha língua é diferente da sua e ainda assim nos entendemos. Minha pele é diferente da sua e ainda assim nos amamos (ou não). Você acredita no que eu não acredito, mas eu acredito em você. A água que sai do meu balde é tão marrom quanto a que sai do seu.

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