quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O "como" e o "o que"


Não tenho entendido o tempo por aqui, parece que quanto mais desejo escrever mais ele desaparece da minha frente. A vida aqui na Tanzânia continua intensa, muita coisa acontecendo, o lado de dentro transbordando e eu batalhando de todos os lados. Tem tanto de mim pra ser dito, mas também tem muito sobre os projetos e sobre tudo que temos todos vivido. E é dos projetos que vou falar hoje.

Começando pelos continuing projects, aqueles que foram iniciados ano passado ou retrasado.

Magoma teve uma inundação na nossa querida shamba e tudo que estava plantado foi perdido. Todo o lugar virou um rio, digno de rafting, com as chuvas fora de época. Lindsay e Cíntia, as duas coordenadoras de projeto, tiveram seu momento e suas diferenças ao enxergar a água lavando o sonho. Paralelamente, desolação pelo que foi perdido e a chance de um novo começo brotaram da água, lágrimas se juntaram ao rio e a mais importante lição nasceu para elas com a experiência: aqui a resiliência é a maior qualidade de um ser humano. Saber cair, levantar e seguir em frente é não só essencial como a única maneira de seguir com a vida. Caímos, levantamos e seguimos, sempre em frente, afinal o destino final ilumina nosso caminho.
Um novo berçário de cebolas e pimentões foi plantado e os desafios não secam com a água que evapora. E os professores, de quem tanto reclamei aqui, se envolveram e nos ajudaram a levantar.

Kwakiliga teve seu turning point, quando Andrea e Sarah abraçaram o projeto que receberam, encararam suas deficiências como parte de sua missão e colocaram suas jembes (enxadas) nos ombros para distribuir sementes de girassol aos membros do grupo. Kwaks será, esperamos, uma vila produtora de lindas flores amarelas que quando murcharem e secarem estarão prontas para alimentar barrigas e sonhos (é a beleza das flores murchas que estamos buscando). O caminho ainda é longo, mas fomos mais longe nas últimas semanas do que nos últimos anos.

Lutindi se tornou um revés, temos que voltar para trás para seguir em frente, já que nosso grupo de agricultores de subsistência ainda se descobre e se esconde. As razões que uniram os membros do grupo sob o mesmo nome se mostraram equivocadas e estamos tentando descobrir a veia que conecta todos. Muitas vezes, em países como a Tanzânia, as pessoas se unem em torno de uma ideia não pela ideia em si, mas pela assistência que desejam receber. Como nosso trabalho é diferente, essa assistência financeira não será entregue a não ser que seja parte de um projeto consistente com objetivos de longo prazo. É essa consistência que estamos buscando em Lutindi.

Os projetos especializados seguem seu caminho aprendendo e analisando os treinamentos, as organizações e os mercados da Tanzânia. Korogwe ainda estuda a melhor maneira de conectar agricultores e proporcionar treinamentos necessários e efetivos. Kariakoo colecionou informações e analisou variações de mercado para entender os padrões produtivos e de consumo. Ambos estão trabalhando muito bem, mas ainda tateando para formular soluções.

Os projetos greenfield, que estão sendo iniciados este ano (Kijungumoto, Bombo Majimoto, Tabora e Bungu), estão em fase de seleção. A responsabilidade de escolher com quem trabalhar, como e em que pesa neste momento sobre os ombros dos PCs. Eles ainda não sabem que o que faz um projeto dar certo por aqui é o “como”, não o “o que”. Vamos aprendendo no caminho ;)

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