quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Subindo e descendo montanhas

Faz muito tempo que não escrevo porque o trabalho tem ocupado cada
minuto de todos os meus dias. Não moro mais em Magoma e assumi minha
posição de Diretora de Desenvolvimento e Projetos em agosto. Agora são
9 projetos, 23 voluntários e 2 diretores aqui na Tanzânia. Estou
vivendo em Korogwe.

Escreverei mais de agora em diante e darei detalhes sobre cada
projeto, mas hoje quero me dedicar mais ao que tenho sentido do que ao
trabalho em si.

Ontem fui a Lutindi, vila que fica lindamente cravada no alto de uma
montanha. Desde a primeira viagem, ano passado com o time de Lutindi,
descer aquela montanha me faz pensar e me coloca a sentir as saudades,
a encarar as dúvidas, a lembrar os sonhos. Ano passado, o fim da tarde
escondeu as lágrimas que expunham as saudades de tudo que havia
deixado no Brasil, o medo e o frio na barriga, o susto por estar
realmente aqui.

Eu vim pra muito longe, mais longe que longe, fazer algo tão simples
como salvar o mundo – salvar um mundo. Parece coisa de filme quando
falamos assim...
Na parede do meu quarto em Korogwe pendurei minhas havaianas
sobreviventes de Magoma. A terra e o barro repuxaram a borracha, a
sola esburacou, o azul ficou meio branco e meio marrom. As havaianas
de Magoma me lembram quem eu sou, me lembram o que eu vivi e me
lembram por que estou aqui. As havaianas de Magoma são como eu na
Tanzânia: meio fora de forma, muitas cicatrizes do caminho adornando a
bandeirinha do Brasil e um cansaço que não se esconde, mas que não as
impede de estarem prontas pra mais um dia na shamba, pra mais uma
conversa em KiSwahili (ou KiSambaa), pra mais um pedra no caminho.
Prontas pra mais.

Na Tanzânia quando falta, falta, faz falta. Eu não sei muito sobre
muita coisa, mas aqui tenho que saber quem eu sou. E este eu é forte,
pra se encarar sozinho, pra entender as variações de sozinho, pra
viver sem. Tento inspirar as 23 pessoas que seguem meu caminho e às
vezes acho que consigo, às vezes falho. Na vida que escolhi, falhar é
cotidiano, é passo. Mas o vento que a moto joga no meu rosto também
lembra que no meio das falhas surgem os acertos e que no meio das
falhas eu não falhei quando vim pra cá. 813 crianças comem todos os
dias os frutos de 9 meses de falhas. Minhas falhas estão enchendo
barrigas há 7 meses. Que venham mais pedras.

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