quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cabeça, alma e a Paz Mundial

Desde julho, tenho dividido minha vida e trabalho com o Sam, Diretor de Desenvolvimento de Projetos que trabalha comigo. Somos os dois únicos funcionários da 2Seeds e planejamos basicamente todos os passos da organização, de quem vai levar o PC com malária ao hospital ao plano de expansão para outros países. Frequentemente a coisa fica tão complexa que nos perguntamos: que tal discutirmos um assunto mais ameno, como a Paz Mundial, para relaxar? Dividimos o trabalho, a casa e a nossa dedicação incondicional a tornar o (quase) impossível possível.

Sam tem 23 anos e se formou em Estudos Africanos em Harvard. É inteligente, muito carismático e, digamos assim, um moleque.
Eu, que sempre me achei jovem (e sou!), me tornei a mãe de todas as famílias (significado de Mamuugu, meu nome em Kisambaa), de todos os Coordenadores de Projeto e... do Sam.
Nossas diferenças formam uma equipe forte, com base acadêmica (Sam) e experiência prática e cultural (eu). As diferenças são claras na maneira que descrevemos o mundo ou falamos Swahili (que eu aprendi em Magoma e Sam aprendeu em Harvard). Sam é a cabeça e eu sou a alma.

Momento de mudança, cabeça e alma se separam fisicamente muito em breve. A temporada do Sam aqui na Tanzânia está acabando e no sábado ele volta pros Estados Unidos (que ele insiste em chamar de América e eu aceito chamar de tudo, menos América).


Sam e eu batalhamos muito, quase sempre juntos, para equilibrar alma e cabeça. Foi impressionante ver como ele descobriu sua alma nos últimos 6 meses, se jogou, se questionou, passou por momentos difíceis, teve que se conhecer melhor e vocalizar seus medos. Tivemos momentos em que ele, emocionalmente abalado, teve que sair da sala para se recompor enquanto eu, calmamente, lhe oferecia meus argumentos.

Sam e eu discutimos todo o tempo (quem mais no mundo discutiria as diferenças entre moral e consciência às 23h00, depois de trabalhar 16 horas?), nos desafiamos e nos respeitamos. Se eu não lhe tiver ensinado mais nada, pelo menos sei que o ensinei a não usar a toalha de rosto pra limpar o chão (e tenho certeza que Maelis, sua namorada, me agradecerá eternamente por isso).


O trabalho aqui não é fácil e os objetivos são ambiciosos.
Batalhamos para que pessoas que aprendem a contar, número por número, de 1 a 1.000.000 (isso mesmo, as crianças continuam a aprender adição na sétima série para chegar a 1.000.000) consigam projetar lucros e tomem decisões fundamentadas.
Batalhamos para que um agricultor que não sabe quantos dias tem uma semana negocie a venda de sua colheita e poupe dinheiro para reinvestimentos.
Batalhamos para que as pessoas batalhem por seu próprio destino e para que mais estrelas cadentes sejam vistas no céu da Tanzânia e mais pedidos sejam feitos sobre a terra vermelha (Sam jamais descreveria nosso trabalho assim).
Precisamos de cabeça(s) e de alma(s). Precisamos acreditar na Paz Mundial.


Sam, I wish you could read some Portuguese so you could read how proud I am of everything we've done together. Cheers to your soul! Cheers to my mind! On the way to the World Peace! Tuko pamoja ;)

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