Foi dentro da minha nova função, que ainda que se torne oficial apenas em agosto venho exercendo desde janeiro, que selecionei com nossos parceiros locais as vilas para os novos projetos. Uma dessas vilas se chama Bombo Majimoto.
Bombo fica perto de Magoma (cerca de 16 km – lembrando que na Tanzânia a distância varia de acordo com quem a mede), mas na região das montanhas, chamada Kizara. É uma vila isolada em que crianças fugiram de mim em minha primeira visita porque nunca haviam visto uma pessoa branca (e eu jamais me descreveria como branca sendo brasileira).
O lugar é lindo, no sopé da montanha. O nome surgiu pela nascente de água que abastece toda a vila. A água deveria ser quente (maji = água, moto = quente), mas todas as vezes que estive lá encontrei água fresca e fria.
Quando os diretores da 2Seeds vieram visitar a Tanzânia em fevereiro, os levei a Bombo Majimoto. Apesar de eu tê-los avisado com antecedência que deveriam esperar uma vila pobre (todas as casas são de pau-a-pique), com uma comunidade muito simples (2.000 agricultores de subsistência), suas expectativas foram ultrapassadas – para pior. Toda a comunidade estava nos esperando e celebrando, desde a manhã, nossa visita. Considerando que chegamos no meio da tarde, nos deparamos com uma comunidade bêbada...
Bombo quase perdeu a chance de receber um projeto pelo excesso de felicidade que o vislumbre de um projeto trouxe para a comunidade. Eu batalhei pela vila: depois de conversar com nossos parceiros locais e ter sua garantia de que o lugar é seguro, passei três dias em Bombo dormindo em casa de pau-a-pique e tomando banho ao relento, para testar as condições de segurança. E me apaixonei.
Meu fim de semana em Bombo aconteceu no meio da estação da fome que assola muitas de nossas vilas, de março a junho, todos os anos. Em Bombo eu fui para a shamba procurar vegetais com Mama Lukia para termos almoço, dividi uma espiga de milho em três e carreguei os vegetais e o milho na cabeça.
A comunidade, com toda a sua pobreza e isolamento, expele doçura por todos os seus poros. Meu nome em Kisambaa (língua local, da tribo Sambaa) chegou a Bombo, e por onde ando ouço Mamuugu ou Makihio, as duas variações para “mãe de todas as famílias”.
Minha felicidade ao voltar a Bombo semana passada carregando a notícia de que começaremos um projeto por lá me embriagou. Não precisei beber pombe (pinga local, fermentada de cana-de-açúcar ou coco) para sair de Bombo na garupa da pikipiki (moto táxi) com água escorrendo pelos olhos escondida debaixo dos óculos escuros.
Um brinde a Bombo!
Pp. O time que chega a Bombo viverá em casa de alvenaria, com forro no teto e todo o conforto possível para a pequena vila. Há apenas uma casa assim em toda a vila, que está sendo finalizada para recebê-los.
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