Tabora é o nome de uma grande cidade aqui
na Tanzânia, longe de nossos projetos, e de uma pequena vila perto de Korogwe,
que esconde uma população Zigua, tribo de língua complicada, e duas coordenadoras
de projeto, Rachael e Ros.
Tabora ya Korogwe, como chamamos a vila
para diferenciá-la da cidade, tem menos de 2000 habitantes e nos surpreende
pelo quão politizadas as pessoas são. Há alguns meses, descontente com a
administração, a população trancou a sala que abriga a sede municipal
(representada por um executivo denominado pelo governo e um administrador
eleito pela vila) e simplesmente impediu que os dois trabalhassem. O cadeado se
mantém na porta e sem administração oficial, Tabora se tornou nossa vila anárquica.
Rachael e Ros formaram um grupo de care-takers, conceito que usam para
designar as pessoas que tomam conta de crianças e são responsáveis pela sua
nutrição. Como a Tanzânia é uma sociedade bastante tradicional (e patriarcal),
normalmente quem toma conta das crianças são as mulheres, mas ainda assim as
coordenadoras preferem usar o termo care-takers
porque gostam de deixar a porta aberta para homens que (quem sabe um dia?)
queiram assumir o papel. O grupo atualmente tem seis mamas (mães) que estão aprendendo a melhorar a nutrição de seus
filhos através do cultivo, em pequenos jardins atrás de suas casas, de frutas e
vegetais. A produção não é destinada à venda, mas contribuirá para o aumento do
poder aquisitivo das pessoas já que cada tomate colhido do jardim significa uma
economia de pelo menos TZS100. Haba na haba, hujaza kibaba (a versão em Swahili para “de grão em
grão a galinha enche o papo”).
O Projeto Tabora começou
em ritmo lento, mas desde que os treinamentos em nutrição começaram as mamas
tem se mostrado mais ativas e algumas já começaram a colher frutos de seus
jardins. As técnicas de cultivo integram conceitos de permacultura
e ideias criativas para reuso de água, plantio de espécies complementares, e
uso de garrafas que seriam consideradas lixo, mas que mantém a humidade do
solo.
Eu estive esta semana
em Tabora para o último treinamento e despedida de Rachael, que está voltando
para os EUA. Foi necessário algum esforço para garantir que nossa facilitadora,
que chamamos de Bibi Lishe (Senhora Nutrição), comparecesse. Ela havia
cancelado sua participação, mas uma ligação ressaltando a importância de sua
presença e algum trabalho na logística de trazê-la para a vila mudou sua
decisão (o segredo é nunca aceitar um não como resposta).
Cozinhamos todas
juntas uma porção de verduras, ressaltando o valor nutricional das folhas
escuras, prestando atenção especial ao tempo de cozimento e à melhor maneira de
garantir que os nutrientes “viajem” do jardim ao prato. O almoço nutritivo foi
servido em uma bandeja, ao estilo tanzaniano, com uma porção de ugali de dona (pasta
de milho menos branca e mais rica em fibras por usar farinha processada apenas
uma vez, ao invés de duas como os tanzanianos preferem). A cada pedaço
arrancado do monte de ugali, uma porção um pouquinho maior que o normal de verdura
foi adicionada ao bolinho. E o corpo foi agradecendo a tão rara nutrição a cada
mordida.
Hoje em Tabora, os
jardins crescem nos baldes. E os baldes, mais do que água, carregam nutrientes
que enchem os pratos das crianças.
Para saber mais sobre
o Projeto Tabora (em inglês):