sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Educação na Tanzânia

A estrutura da Escola Primária Kwata é sem dúvida deficiente. Isso não me causa espanto ou surpresa e tenho certeza que vocês também não esperavam nada diferente. O problema tem sido encarar a falta de comprometimento dos professores, o sistema educacional desorganizado e os fimbos...

Como temos passado bastante tempo na escola, aplicando diferentes atividades para todas as séries, temos visto a dinâmica do dia-a-dia: estudantes esperando professores por longos períodos, professores comprando verduras do lado de fora da sala de aula, professores MUITO atrasados após cada intervalo, classes sem nenhum professor enquanto a sala de professores está lotada, estudantes correndo sobre as carteiras (literalmente) e pendurados nas janelas.
Em algumas classes encontramos dois professores sentados um de frente para o outro (o que significa de costas para os alunos). Nessa mesma classe os 150 alunos têm que andar sobre as carteiras para chegar a um lugar vazio de tão próximas que as carteiras estão, enquanto três salas são usadas para guardar entulho.

Cada atividade tem o desafio do barulho já que com tudo isso acontecendo sempre temos estudantes berrando nas janelas e espiando curiosos a atividade que estamos fazendo. Tenho total consciência que o barulho me traz muito mais incômodo que a qualquer criança, elas cresceram neste ambiente e convivem com altos volumes desde que nasceram: Magoma é incrivelmente barulhenta, pastores malucos começam a pregar com alto-falantes às 23h00, os vizinhos escutam música no último volume a partir das 6h00, os galos gritam e as crianças choram às 5h00 (podíamos ouvir o barulho do topo da montanha que escalamos), as mesquitas anunciam as horas de rezar em alto-falantes (seis vezes por dia).

Os fimbos constituem um capítulo a parte. São a versão tanzaniana da minha memória de infância sobre estórias com varas de marmelo e palmatórias. Quando cresci já não era permitido aos professores bater nos alunos, pelo menos em São Paulo.
Aqui é considerado natural e até encorajado bater nas crianças com fimbos. Em diversos momentos estamos na sala do diretor e somos abordados por um estudante:
Hodi (Com licença).
Naomba fimbo (Desejo um fimbo).
Hamna (Não há nenhum).

Nunca há fimbos, seja porque eles realmente não estão lá, seja porque nos recusamos a entregá-los.

Tenho consciência que os professores recebem salários baixos e não são bem preparados, mas meu idealismo me impede de usar isso como justificativa.

O fato é que temos passado horas e horas com os estudantes, em alguns momentos apenas Kristina e eu para 112 alunos de 1ª série. E nunca precisamos de um fimbo para manter a ordem ainda que nosso conceito de ordem esteja a quilômetros-luz de distância do conceito de ordem de qualquer pessoa por aqui.

Kristina pergunta: "Is there any learning happening here?"

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