As pessoas de Magoma não comem muito. Também não comem bem. Refeições balanceadas, proteínas e todas essas coisas que me lembro de ler em revistas de beleza não fazem o menor sentido aqui, mas nunca as vi passarem fome. Até agora.
Confesso que estou tentando me preparar psicologicamente para este período, que deve ser o mais difícil da minha temporada em Magoma. Como as chuvas não vieram no segundo semestre de 2010, a comida que as pessoas têm remanesce da colheita de junho/julho de 2010. Em uma região dependente de chuva em que as pessoas plantam sem ferramentas adequadas, as colheitas não são fartas. Pra ajudar, as pessoas vendem o milho a preços irrisórios para suprir suas pequenas necessidades (sabonete, caderno pra escola, tijolos) e não têm como estocar de forma apropriada os grãos.
O resultado de tudo isso é fome nos meses de abril, maio e junho, justamente quando deveríamos ter a estação chuvosa. Milho foi plantado em março, na expectativa das chuvas que devem chegar. O problema é que leva mais tempo pro milho crescer do que pra fome chegar.
Nossa meta de curto prazo é continuar o programa de merenda escolar nos meses de maio e junho. Assim, as crianças terão alguma comida e as famílias ficarão mais tranquilas. Em abril eu decidi suplementar o mingau com uma farinha extra, para prover mais nutrientes para os estudantes.
Todo o dinheiro que financia o programa vem do trabalho na shamba. Estamos batalhando, mas não sei se teremos suficiente para todo o mês de maio, já que vamos colher melancias, pimentões e cebolas em junho. Talvez, em meio a tantas decisões difíceis, eu ainda tenha que tomar a que considero a mais difícil de todas: devo financiar a merenda escolar durante a temporada de fome adiantando o lucro da colheita? Será que isso não levará o projeto para a mentalidade de dependência que evitamos a todo custo?
Não existe resposta fácil para estas perguntas.
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