terça-feira, 8 de outubro de 2013

Samahani, nimepotea

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Em Swahili dizemos “Umepotea sana!” (você se perdeu muito! = você sumiu!) quando vemos uma pessoa que não víamos há tempos. Hoje passo por aqui para dizer “Samahani, nimepotea” (desculpem, eu me perdi) e para atualizá-los sobre tudo que estamos vivendo aqui na Tanzânia.

Os meses de maio a outubro são os mais malucos para mim já que englobam a transição entre times de coordenadores de projetos. Para não enfraquecer nossos projetos e relacionamentos com parceiros locais, eu sou a principal responsável por garantir que a maioria dos déficits de informação seja preenchida e que o trabalho siga de acordo com o plano. Com isso, os dias têm sido longos e as visitas aos projetos muitas (para minha felicidade; segredo nosso ;).


Assim, agora de volta e com a meta de um post por semana, tenho muito para escrever, tanto em experiências pessoais como profissionais. Para começar vou contar a estória de nosso querido Mzee Rubeni, para quem se lembra do doce solteirão de Kwakiliga, que vivia solitário por não ter uma esposa (http://maquinadedesencalharbaleias.blogspot.com/2013/05/apresentando-mzee-rubeni.html).

A boa notícia é que Mzee Rubeni se casou! Verdade que foi meio que de surpresa, meio que escondido, mas não consigo esconder minha satisfação ao vê-lo chegar às reuniões com camisas floridas e sorriso no rosto, atrasado como quem perde a noção do tempo quando está em casa. Mama Rubeni é uma senhora de uma vila próxima, que tem seis filhas adultas e casadas e por isso também se sentia só – na Tanzânia as mulheres se incorporam à família do marido quando se casam então acabam mais distantes da própria família.

Como o casal se conheceu eu não sei; com medo de uma grande festa, maior que suas posses, Mzee Rubeni manteve segredo sobre o plano até a véspera do casório e eu mesma só pude comparecer à sua casa à noite, quando os convidados já haviam partido.
Confesso que a lembrança de Mzee Rubeni com seu chapeuzinho muçulmano e roupas brancas, dentes faltando no sorriso, e a esposa em roupa de festa, suando com o calor da planície, meio sem saber o nome do vilarejo em que estava, me alegra até hoje.


Fico pensando em que escala a participação de Mzee Rubeni no Projeto Kwakiliga e seu sucesso nas atividades do grupo (como a criação de galinhas), viabilizaram seu casamento. Tenho a sensação de que de alguma forma ele se sentiu mais qualificado para ter uma família por não ter que se preocupar tanto com a fome.

Ontem, tivemos uma reunião em Kwak, na qual o doce Mzee Rubeni levantou a preocupação sobre o destino de sua esposa no caso de sua morte – ele queria saber se ela herdaria seu lugar e poderia continuar com o trabalho do grupo. Brinquei, como sempre, dizendo que membros da 2Seeds não são autorizados a morrer e que nós não aceitaríamos que ele quebrasse este acordo. Entre risadas, tivemos uma discussão em família sobre os caminhos a seguir e o compromisso de ajudarmos uns aos outros.
Vida longa ao casal e às galinhas! (all we need is love!)


Pp. Como estamos na Tanzânia, a honestidade é uma virtude crua. Em pleno casamento (ou tecnicamente no que seria a noite de núpcias) Mzee Rubeni, em frente à Mama Rubeni, se sentiu na obrigação de me explicar que como Mama Mwaka o rejeitou (ele havia sido casado com a sobrinha dela) ele decidiu se casar com outra pessoa, bonita e de pele clara, apontando para Mama Rubeni. Minha pele quase branca ficou vermelha por um segundo, antes de eu me lembrar que estamos na Tanzânia e que Mama Rubeni, a suposta parte ofendida, estava a seu lado sorrindo e agradecendo a Deus pela nova vida. Ah, o charme tanzaniano...




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