segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Subindo uma montanha para chegar a mim mesma

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Lembro de mim ainda novinha lendo sobre Dian Fossey, a zoologista norte-americana que dedicou 18 anos de sua vida a estudar (e viver com) os gorilas de montanha (e só não dedicou o resto de sua vida a eles por ter sido assassinada aos 53 anos de idade). A realização da existência de Dian Fossey veio acompanhada da descoberta de que havia uma montanha “cheia de gorilas” em um canto do mundo, acessível para mulheres incríveis.

Eu sempre sonhei ser uma desbravadora, dedicar minha vida a explorar o mundo, defender causas, tornar possível o impossível e “viver para” ao invés de “viver de” – e a imagem guardada na minha cabeça, o símbolo de todos os sonhos, era Dian Fossey em meio ao grupo de gorilas.

Terça-feira passada, dia 9 de outubro, eu levantei da cama depois de uma noite em claro contando os minutos para as 5h30 e tentando convencer meu corpo, em vão, a dormir e poupar energia para a longa caminhada que me aguardava. Eu engoli uns pedaços de frutas e ovos (que mal pude digerir de tão ansiosa) e corri para a sede do Parque Nacionaldos Volcanos para descobrir qual família de gorilas seria designada para mim (acabei pegando a família Bwenge). Depois de uma espera que me pareceu tão longa quanto os anos que levei para chegar ali, eu me vi em um carro a caminho do início da trilha e, logo depois, subindo a montanha acompanhada de sete turistas, um guia e um guarda armado responsável por espantar os búfalos do caminho (atirando para o ar, não nos búfalos).
Meu coração pulava com a subida íngreme - ou talvez fosse a emoção de estar no sopé dos Volcanos. Após quase duas horas de trilha, entre terraços cultivados na montanha e floresta tropical, eu finalmente avistei meu primeiro gorila – ou melhor, minha primeira gorila. Um a um, foram surgindo entre as árvores quatro filhotes, um macho silverback e outras quatro fêmeas. Na hora mais curta da minha vida eu fiquei ali, observando cada detalhe, cada ruga, o jeito que as patas se mexem, os olhos vermelhos, a energia sem fim dos filhotes que parecem não se amedrontar com o tamanho e a força de seu pai, o silverback.

Foram muitos os momentos da minha vida em que eu vi a montanha dos gorilas distante e duvidei que um dia eu pisaria nela – minha distância da montanha dos gorilas estava ligada a minha distância de quem eu queria ser. Mas no dia 9 de outubro de 2012 eu subi a montanha que me levou aos gorilas e que me permitiu me aproximar de mim mesma – eu sou causa e consequência de minhas escolhas. Um brinde à família Bwenge!

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