quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Estrelas cadentes

Outro dia o coordenador de projeto da World Vision Magoma veio jantar aqui conosco. Não acontece com freqüência termos visita para o jantar e confesso que acho divertido ainda que seja bem trabalhoso cozinhar com uma única boca de fogareiro movido a querosene e sem geladeira ou forno.
Precisávamos de tomates (ele avisou que viria quase na hora do jantar e não há supermercados em Magoma). Maria me disse que há uma vendinha aqui perto, eu não conhecia, então fomos juntas. Na verdade é uma casa, em que a dona vende tomates, cebolas e ovos na janela. A noite estava linda, magnífica na verdade.
Infelizmente não tenho aproveitado muito as noites de Magoma, não há muito que fazer, especialmente para mulheres. Como não há iluminação pública e 90% das casas não têm energia elétrica, é possível ver milhões de estrelas.
Quando a lua está cheia ando sem lanterna, mas quando não há lua vou com a lanterna do celular, já que há buracos para queimar o lixo espalhados pelo chão e não seria muito agradável cair em um deles.

Nessa noite, com Maria, comentei que adoraria ver uma estrela cadente. E descobri que Maria não faz idéia do que é uma estrela cadente...
Primeiro ela me perguntou se a estrela cairia até o chão. Depois ficou olhando pro céu, admirada.
Não saber o que é uma estrela cadente significa nunca ter feito um pedido para uma estrela cadente. Em Magoma as pessoas não fazem pedidos para estrelas, não sopram velas de aniversário, sonhos são raros. E isso sempre me deixa triste porque é um dos símbolos da falta de perspectiva, da ausência de desejos e tradições doces e frívolas. A vida não tem essa leveza e provavelmente ninguém acreditaria que um pedido a uma estrela possa se realizar.

Eu estou aqui, batalhando por Magoma. E buscando pessoas de Magoma dispostas a batalhar por Magoma também. Encontrei algumas, mas todas tão temporárias quanto eu. Tanzanianos não gostam de Magoma e não desejam estar aqui, especialmente os jovens. Sempre que viajamos e dizemos a qualquer pessoa que vivemos em Magoma ouvimos risadas seguidas de “O que você come?”, “Você bebe a água?”.
Para encontrar jovens magomenses dispostos a lutar por uma Magoma melhor, precisamos primeiro criar condições para que viver em Magoma seja uma opção, não falta de perspectivas. Se conseguirmos mostrar aos jovens de Magoma novos caminhos ou, melhor ainda, lhes mostrar uma forma de encontrá-los por conta própria, talvez tenhamos uma nova realidade dominando o espaço. Espero que essa nova realidade nos traga um pouco de criatividade, certamente ajudaria muito.

Eu vou seguindo minha vida e procurando minha estrela cadente para fazer meu pedido: desejo que as pessoas de Magoma descubram que existem estrelas cadentes nesse lindo céu negro e comecem a fazer pedidos e correr atrás de seus sonhos. Como eu estou correndo atrás do meu.

Um comentário:

  1. toda noite conto pra gui uma história de uma mamute fêmea (ela adora mamutes), que se chama alexandrina e que divide a comida com os amigos. fiquei pensando em nome de alguma amiga que fosse fácil eu lembrar pra contar a história 500 vezes. e pensei "quem mais estaria disposta a dividir??"

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