Nosso grupo de agricultores em Kwakiliga, o
mais antigo da 2Seeds, tem sofrido com a seca desde 2010 e viu cada uma de
suas temporadas agrícolas falhar: milho, kunde (uma espécie de lentilha),
girassol e até mesmo a resistente mandioca. Nossos parceiros se orgulham de sua
resiliência na falta de um resultado para ostentar, mas como consequência dos
últimos anos estão enfrentando um período assolador de fome.
Desde janeiro, estamos construindo
galinheiros em Kwakiliga. Decidimos migrar de agricultura para pecuária na
esperança de gerar oportunidades que não sequem nos campos. O modelo dos
galinheiros veio do Brasil: PAIS, produção agroecológica integrada sustentável, um sistema que
integra a criação de galinhas a agricultura e reflorestamento. Decidimos
começar com as galinhas e adaptar o modelo para nossa realidade.
O grupo, de nove famílias, foi dividido em
três subgrupos e cada três famílias será responsável por um galinheiro. A
construção, no entanto, foi trabalho de equipe, todos trabalhando juntos em
cada etapa:
1)
A marcação do terreno, formado
por círculos concêntricos e uma área de recreio para as galinhas, transformou
os terrenos de Kwakiliga em campos de sonhos, que poderiam facilmente
representar a nossa civilização e suas crenças naquele determinado momento.
Esta etapa teve a inspiradora colaboração de todos os coordenadores de projeto
da 2Seeds;
2)
A colocação das estacas teve
que perfurar um solo duro e sem vida, que mesmo em um dia de chuva não permite
que a água o penetre 10cm;
3)
O teto foi feito com telhas de alumínio já que o desmatamento garantiu a indisponibilidade de folhas ou palha –
uma terra tropical em que não crescem nem ervas daninhas;
4)
O arame forte que circunda os
galinheiros fatiou nossos dedos;
5)
A área de recreio foi cercada com
um arame mais leve e contínuo já que a preocupação com a segurança das galinhas
é menor durante o dia;
6)
A construção dos túneis pelos
os quais as galinhas irão do galinheiro para o recreio e voltarão ao galinheiro
foi guiada pelo nosso cuidado em criar um ambiente seguro para as aves.
A construção de três galinheiros nos permitiu aprimoramento
constante e o resultado pode ser visto no design aperfeiçoado e nos dias que se
alongaram conforme nos tornamos mais rápidos. O vínculo emocional entre
agricultores e galinheiros, humanos e galinhas, foi fortalecido e com o
processo pudemos também fomentar criatividade e inovação dando aos agricultores
a chance de aprender para que futuramente eles possam ensinar.
A esperança de sucesso alimenta nossa alma
enquanto os dias de trabalho nos dão a oportunidade de compartilhar refeições
que aliviam a fome latente. O ugali com feijão nos dá forças, mas apenas sacia
temporariamente a fome por resultados. A gente não quer só comida, a gente quer
omelete!
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