segunda-feira, 25 de março de 2013

Sangue, suor e omeletes

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Nosso grupo de agricultores em Kwakiliga, o mais antigo da 2Seeds, tem sofrido com a seca desde 2010 e viu cada uma de suas temporadas agrícolas falhar: milho, kunde (uma espécie de lentilha), girassol e até mesmo a resistente mandioca. Nossos parceiros se orgulham de sua resiliência na falta de um resultado para ostentar, mas como consequência dos últimos anos estão enfrentando um período assolador de fome.

Desde janeiro, estamos construindo galinheiros em Kwakiliga. Decidimos migrar de agricultura para pecuária na esperança de gerar oportunidades que não sequem nos campos. O modelo dos galinheiros veio do Brasil: PAIS, produção agroecológica integrada sustentável, um sistema que integra a criação de galinhas a agricultura e reflorestamento. Decidimos começar com as galinhas e adaptar o modelo para nossa realidade.

O grupo, de nove famílias, foi dividido em três subgrupos e cada três famílias será responsável por um galinheiro. A construção, no entanto, foi trabalho de equipe, todos trabalhando juntos em cada etapa:
1)   A marcação do terreno, formado por círculos concêntricos e uma área de recreio para as galinhas, transformou os terrenos de Kwakiliga em campos de sonhos, que poderiam facilmente representar a nossa civilização e suas crenças naquele determinado momento. Esta etapa teve a inspiradora colaboração de todos os coordenadores de projeto da 2Seeds;
2)   A colocação das estacas teve que perfurar um solo duro e sem vida, que mesmo em um dia de chuva não permite que a água o penetre 10cm;
3)   O teto foi feito com telhas de alumínio já que o desmatamento garantiu a indisponibilidade de folhas ou palha – uma terra tropical em que não crescem nem ervas daninhas;
4)   O arame forte que circunda os galinheiros fatiou nossos dedos;
5)   A área de recreio foi cercada com um arame mais leve e contínuo já que a preocupação com a segurança das galinhas é menor durante o dia;
6)   A construção dos túneis pelos os quais as galinhas irão do galinheiro para o recreio e voltarão ao galinheiro foi guiada pelo nosso cuidado em criar um ambiente seguro para as aves.

A construção de três galinheiros nos permitiu aprimoramento constante e o resultado pode ser visto no design aperfeiçoado e nos dias que se alongaram conforme nos tornamos mais rápidos. O vínculo emocional entre agricultores e galinheiros, humanos e galinhas, foi fortalecido e com o processo pudemos também fomentar criatividade e inovação dando aos agricultores a chance de aprender para que futuramente eles possam ensinar.



A esperança de sucesso alimenta nossa alma enquanto os dias de trabalho nos dão a oportunidade de compartilhar refeições que aliviam a fome latente. O ugali com feijão nos dá forças, mas apenas sacia temporariamente a fome por resultados. A gente não quer só comida, a gente quer omelete!

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