Mzee Mcharo peparando sementes de mandioca |
Raimondi preparando sementes de mandioca |
Mama Halima preparando sementes de mandioca |
A mandioca à espera da chuva |
Plantando |
Kwakiliga é uma de nossas vilas na planície
(tecnicamente uma sub-vila), com cerca de 1000 habitantes. Estabelecida em uma
área muito seca e sem acesso a água, eu muitas vezes me pergunto o que levou
nossos parceiros em Kwakiliga a viverem ali. A resposta correta para esta
pergunta é, provavelmente, disponibilidade de terras em um país em que cada
pedacinho de solo é plantado para subsistência. Minha resposta poética para
esta pergunta paira no que me encanta em Kwakiliga: sua paisagem de tirar o
fôlego, com céu sempre azul e solo vermelho; o mais belo pôr-do-sol da
Tanzânia; o vento forte que bate incessantemente; o Mkwajo, árvore de copa
grande e frutos amargos que marca o centro da vila e por último, mas não menos
importante, o sorriso contagiante dos habitantes de Kwakiliga que jamais perdem
uma oportunidade para se divertir e sobrevivem à fome se alimentando de
alegria.
Este ano não temos coordenadores de projeto
em Kwakiliga pois dois dos candidatos selecionados desistiram de vir à Tanzânia
e por ser a o projeto mais próximo a Korogwe (14km) e por sua longa estória
com a 2Seeds, Kwakiliga se tornou responsabilidade minha e do Sam (o outro
diretor de desenvolvimento de projetos). Nossos corações batem forte com a
responsabilidade e nós temos um desejo visceral, uma necessidade mesmo, de
levar o projeto em Kwakiliga adiante e encontrar formas de criar oportunidades
para esta comunidade que encarou tantos insucessos.
Hoje passei o fim da tarde em Kwakiliga,
plantando mandioca com nossos parceiros. Mandioca será, provavelmente, nossa
última tentativa de cultivo já que se a chuva não for suficiente para que a
mandioca floresça não será suficiente para mais nada. Nós arriscamos ao comprar
as sementes após um único dia de chuva, o único em muito tempo, e nossos
parceiros estão trabalhando muito para que as plantas sobrevivam já que o
período de fome em Kwakiliga tem sido mais intenso a cada ano.
O momento mais forte do dia foi a alegria
com que nossos parceiros trabalharam na shamba, com seus corpos muito magros e
sorrisos largos, cantando, fazendo piada (o que me proporcionou um candidato a
marido, é claro) e incentivando uns aos outros.
O desafio é que não importa o volume de
esforço que colocamos na nossa shamba, se a chuva não vier não teremos o que
comer e esta falta de controle sobre o processo, a relação falha entre causa e
consequência, é muito dolorosa para mim.
Para resolver esta questão estamos iniciando
a construção de galinheiros e temos uma nova iniciativa, focada em segurança
financeira, que é a produção de ovos.
Contarei mais detalhes sobre nossas
aventuras no mundo das galinhas muito em breve, mas por agora peço que todos
cruzem seus dedos e soprem as nuvens em nossa direção. A mandioca precisa de
chuva para sobreviver e ter esta segurança crescendo no solo significa muito
para nossos fortes parceiros. Eles acreditam que a chuva está vindo; eu também
(tenho que acreditar), e não há um único segundo do dia em que eu não busque
sinais no sentido do vento ou no barulho fora da janela que indiquem que
estamos certos.
Que venha a chuva, porque não consigo pensar em um lugar do mundo que precise (ou mereça) mais se deliciar com as gotas que caem do céu!
Que venha a chuva, porque não consigo pensar em um lugar do mundo que precise (ou mereça) mais se deliciar com as gotas que caem do céu!