Lembro de mim ainda novinha lendo sobre
Dian Fossey, a zoologista norte-americana que dedicou 18 anos de sua vida a
estudar (e viver com) os gorilas de montanha (e só não dedicou o resto de sua
vida a eles por ter sido assassinada aos 53 anos de idade). A realização da existência de Dian
Fossey veio acompanhada da descoberta de que havia uma montanha “cheia de
gorilas” em um canto do mundo, acessível para mulheres incríveis.
Eu sempre sonhei ser uma desbravadora,
dedicar minha vida a explorar o mundo, defender causas, tornar possível o
impossível e “viver para” ao invés de “viver de” – e a imagem guardada na minha
cabeça, o símbolo de todos os sonhos, era Dian Fossey em meio ao grupo de
gorilas.
Terça-feira passada, dia 9 de outubro, eu
levantei da cama depois de uma noite em claro contando os minutos para as
5h30 e tentando convencer meu corpo, em vão, a dormir e poupar energia
para a longa caminhada que me aguardava. Eu engoli uns pedaços de frutas e ovos
(que mal pude digerir de tão ansiosa) e corri para a sede do Parque Nacionaldos Volcanos para descobrir qual família de gorilas seria designada para mim (acabei pegando a família Bwenge). Depois
de uma espera que me pareceu tão longa quanto os anos que levei para chegar
ali, eu me vi em um carro a caminho do início da trilha e, logo depois, subindo
a montanha acompanhada de sete turistas, um guia e um guarda armado responsável
por espantar os búfalos do caminho (atirando para o ar, não nos búfalos).
Meu
coração pulava com a subida íngreme - ou talvez fosse a emoção de estar
no sopé dos Volcanos. Após quase duas horas de trilha, entre terraços
cultivados na montanha e floresta tropical, eu finalmente avistei meu primeiro
gorila – ou melhor, minha primeira gorila. Um a um, foram surgindo entre as
árvores quatro filhotes, um macho silverback e outras quatro fêmeas. Na hora
mais curta da minha vida eu fiquei ali, observando cada detalhe, cada ruga, o
jeito que as patas se mexem, os olhos vermelhos, a energia sem fim dos filhotes
que parecem não se amedrontar com o tamanho e a força de seu pai, o silverback.
Foram muitos os momentos da minha vida em
que eu vi a montanha dos gorilas distante e duvidei que um dia eu pisaria nela –
minha distância da montanha dos gorilas estava ligada a minha distância de quem
eu queria ser. Mas no dia 9 de outubro de 2012 eu subi a montanha que me levou
aos gorilas e que me permitiu me aproximar de mim mesma – eu sou causa e
consequência de minhas escolhas. Um brinde à família Bwenge!