domingo, 29 de maio de 2011

Novos desafios - de coordenadora a diretora


Diretora de Desenvolvimento de Projetos. Assumo aqui minha nova função dentro da 2Seeds.
A partir de agosto, receberemos 24 novos coordenadores de projeto, que eu e Sam coordenaremos. Serão nove projetos; estamos buscando trabalhar em toda a cadeia de valor para garantir efetividade nos resultados.

7 projetos em vilas
4 projetos greenfield: greenfield é o termo usado para projetos em aberto, em que os times chegarão à Tanzânia e definirão com a comunidade em que vão trabalhar. Foi o que eu e Kristina fizemos ano passado quando chegamos a Magoma e o que novos times farão.
3 projetos focados: Magoma, Lutindi e Kwakiliga, começados em 2010, serão consolidados e expandidos. Novas visões em campo para os desafios que persistem e para todos os novos desafios que surgirão, além da chance de crescer.

Os sete projetos em vilas foram divididos por suas características geográficas:
Montanhas: Lutindi (focado) e Bungu (greenfield)
Vale: Magoma (focado), Kijungumoto (greenfield) e Bombo Majimoto (greenfield)
Planícies: Kwakiliga (focado) e Tabora ya Korogwe (greenfield)

2 projetos especializados
Para trabalhar em toda a cadeia de valor, acreditamos que, além de ajudar a comunidade a se organizar e enxergar claramente suas oportunidades e desafios, precisamos oferecer treinamento e ajudá-los a se conectar com mercados. Muitas vezes as pessoas não têm uma visão clara de suas dificuldades; não é difícil conversar com agricultores que dirão que não podem trabalhar bem sem uma bomba de irrigação em vilas sem acesso a água (se eles tiverem a bomba, bombearão água de onde?). Seus anseios se baseiam nos sonhos de máquinas e agricultura de pouco trabalho, como supostamente existe nos países desenvolvidos. O treinamento os ajudará a cultivar melhor com as ferramentas disponíveis, a planejar agricultura como um negócio que lhes traga retorno e a verificar quais ferramentas podem aumentar sua produtividade e seu lucro.

O mercado na Tanzânia é interessantíssimo. Uma garrafa de água, por exemplo, terá exatamente o mesmo preço em qualquer loja de qualquer cidade ou vila. Não existe concorrência, não existe atribuição de valor. 
Para produtos agrícolas isso muda um pouco e o preço varia com a qualidade do produto. O problema é que os agricultores vendem seus produtos para compradores intermediários que viajam das cidades para as vilas enchendo seus caminhões ou enviando produtos pelos ônibus urbanos (ônibus transportam absolutamente tudo na Tanzânia). Normalmente, o agricultor não sabe onde seus produtos serão vendidos ou por que preço. E os intermediários não perdem a chance de explorar esta ignorância (ainda que não passem de maus comerciantes que tampouco fazem muito dinheiro com o processo).

Para combater essas duas frentes, teremos os seguintes projetos:

Korogwe: vila central onde todos os times baseados em vilas se reúnem quinzenalmente e compram suprimentos. Também é nosso centro de transporte.
Em Korogwe iniciaremos um centro de treinamento com plantações demonstrativas (como uma fazenda-escola). Ali poderemos trabalhar em sala de aula e com o pé na terra, ajudando os agricultores a produzir maiores quantidades e com melhor qualidade. Além disso, os agricultores poderão se conectar e trocar informações, já que muitas vezes enfrentam dificuldades parecidas e podem se ajudar na busca de soluções.

Kariakoo: o maior mercado da Tanzânia. Kariakoo está localizado em Dar es Salaam e recebe produtos de todo o país além de ser o centro exportador para países próximos e ilhas como Madagascar. Acreditamos que se os agricultores tiverem acesso a informações sobre os preços pagos por seus produtos, terão a chance de tomar decisões para obter lucro e deixar a linha da pobreza.

Tanzânia, mais um ano! Novos desafios batendo à janela =)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A água que sai do meu balde

Posso carregar o balde na cabeça, se treinar bastante. A ginga do meu quadril não alcançou meu pescoço, o balde não “assenta”, mas um dia vai (vai?). Faço planilhas no Excel, desenho logos e tenho um dicionário. Faço um quadrado com a mão direita enquanto a esquerda sobe a desce ao som de tirolirolá. Você equilibra o balde; eu danço samba.

A gente quer fazer o que o outro faz, quer se mostrar forte, quer saber e poder. Sim, eu consigo beber água suja sem ficar doente, aguentar os mosquitos sem pegar malária e tirar a sanguessuga da perna sem gritar a dar pití. Trabalho com a enxada (não tão bem como você), caminho na lama de chinelo (quase nunca caio) e consigo comer feijão com a mão (direita). Mas o mais legal deste tempo que estamos juntos é dividir, é ser diferente. Vim pra viver seu mundo e pra te mostrar um pedaço do meu.

Sim, sou mais branca que você (que saco!). Sim, falo várias línguas e viajei o mundo; tenho um MBA e estudei pacas. Se eu precisar posso cortar lenha e cozinhar sobre pedras, mas a verdade é que não preciso. Meu valor está no que eu sou; não nos baldes que carrego na cabeça. Seu valor está no que é; não na magreza do seu corpo e no ugali (pasta de milho) que te faz feliz exatamente do mesmo jeito todos os dias.

Não, eu não quero casar com você (ou com ele) e dificilmente vou levar alguém pro Brasil comigo (mais difícil ainda te levar pra Europa). Mas isso porque em outra dimensão minha vida também não é fácil; as decisões se sobrepõem e dominam os dias. A real é que neste momento não sei nem se eu vou pro Brasil ou pra Europa (ou pra qualquer lugar).

Você quer sair do seu mundo, eu quero achar o meu. Me joguei, me estabaquei, chorei, levantei, sonhei, mudei e decidi ser feliz (será que consigo?).
Assisti a fome do mundo. Comi a fome do mundo. Não consigo digerir a fome do mundo, tá pesando dentro de mim, me deixou gorda. Preciso fazer alguma coisa como preciso respirar.

Não quero ser expectadora, quero que você coma comida colorida todos os dias. Não quero ser expectadora, quero que você coma todos os dias. Quero te alimentar de esperança e de vontade de viver, quero que você se alimente, também de esperança, sem precisar de mim segurando a colher e fazendo aviãozinho (mas adoro fazer aviãozinho!).


Hey você aí do outro lado! Minha bandeira não é azul, vermelha e branca, meu coração não pula com seus presidentes (nem com os meus). Não gosto de guerras, não entendo o que te move. Preciso?
Discordo dos prefixos e das diferenças que se enfatizam pelo aparente, me alimento das diferenças de alma. O que te move é diferente do que me move e ainda assim nos movemos juntos.


Minha língua é diferente da sua e ainda assim nos entendemos. Minha pele é diferente da sua e ainda assim nos amamos (ou não). Você acredita no que eu não acredito, mas eu acredito em você. A água que sai do meu balde é tão marrom quanto a que sai do seu.