Tinha que ir à fronteira para renovar meu visto de permanência na Tanzânia. Já que tenho que sair do país, por que não aproveitar para conhecer um cantinho novo?
Foi assim que Nairóbi (Quênia) entrou na minha vida. Ouvi muita gente dizer que a cidade é horrorosa, a mais traumática do mundo. A curiosidade bateu e decidi tirar a prova.
De Korogwe a Nairóbi foram 11 horas de viagem. Cheguei 1h30 da manhã pensando "que hora bizarra para pisar em uma cidade tão perigosa". Mas foi fácil achar um táxi que me cobrou mais caro, mas me levou em segurança para meu refúgio de mochileira (eu sabia o valor da corrida porque perguntei quando reservei o hotel, mas de madrugada tudo que eu queria era chegar em segurança, não negociei preço).
Dormi em uma cabine, um pequeno bangalô de madeira no meio da vegetação. O segurança abriu a porta pra mim, a recepção já estava fechada. Fazia frio e eu, desacostumada depois de seis meses em Magoma, não levei meias e enrolei a camiseta em um pé, a canga no outro. Dormi bem.
O albergue de mochileiros foi uma escolha acertada. Conheci pessoas viajando pela África, viajando pelo mundo, viajando pelo Quênia. Falei português e espanhol, ouvi alemão.
No segundo dia minha cabine não estava disponível (eu havia feito a reserva para apenas uma noite) e migrei para uma barraca. Sim, UMA BARRACA!
Quem me conhece sabe o quanto amo acampar e pode imaginar minha felicidade. São barracas permanentes, com roupa de cama (!) fornecida pelo lodge.
Caminhei no centro de Nairóbi, subi em uma torre para olhar a cidade - que não se perde de vista e está circundada por savana - sentei num parque com um monte de gente esquisita, fiz amigos, curti a happy hour.
Visitei um berçário de elefantes onde bebês-elefantes encontrados machucados ou sozinhos na savana são cuidados até terem idade e condições para reintrodução na natureza. Vi um rinoceronte-negro. Visitei um centro de alimentação de girafas (e fui beijada por uma girafa!!!).
Nairóbi me rendeu amigos, me lembrou porque me defino como mochileira, me chacoalhou, me colocou em um prumo e me tirou de outro. Encheu-me de vontade de viajar pela África e me mostrou que dá pra fazer isso sendo uma mulher sozinha. Permitiu-me compartilhar a experiência na Tanzânia enquanto ouvia a experiência de quem está em outra viagem.
A volta de ônibus foi épica: sentada no chão do ônibus sobre uma almofada, a música (meio árabe, meio africana) no último volume, os personagens dentro do ônibus (de masais a missionários), a savana do lado de fora, o Kilimanjaro surgindo entre as nuvens, a velocidade leeenta e as paradas tumultuadas em que passageiros são deixados pra trás (e às vezes perseguem o ônibus em motocicletas para continuar viagem). Foram 20 horas para chegar a Magoma, em tempo para meu Natal no sertão.
Nairóbi: seja cuidadoso, lembre-se das precauções que tomaria andando na Praça da Sé ou no Largo 13 de Maio e divirta-se! Eu recomendo :)
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