domingo, 11 de abril de 2010

2Seeds Network

Os dias andam corridos, muito trabalho para organizar minha participação no 2Seeds, muito trabalho para organizar minha vida que ficará aqui. Estou muito feliz e a boa notícia é que o logo que desenhei para o 2Seeds foi aprovado esta semana. Um pouco da designer dentro deste novo momento :)

O 2Seeds nasceu da visão de mundo de alguns jovens norte-americanos que enxergaram a oportunidade de batalhar por um mundo melhor e desenvolveram um modelo eficaz para fazê-lo. A intenção é trabalhar com pequenos projetos e equipes pequenas, formadas por jovens (sim, sou jovem!) cheios de entusiasmo e com bastante autonomia, para desenvolver ao máximo sua capacidade de liderança paralelamente à segurança alimentar africana.
A equipe é formada por americanos e africanos. As pessoas com quem tive contato até agora parecem fantásticas e se desdobram para viabilizar o 2Seeds paralelamente a suas outras atividades. Tem excelentes networks e inspiram pessoas extremamente capacitadas a doarem suas habilidades ao projeto.

Para a temporada de 2010 foram selecionados 10 coordenadores de projeto - 7 mulheres e 3 homens. Quando fui entrevistada por Skype, disse ao entrevistador que imaginava que haveria mais candidatos do que candidatas - eu estava enganada e a seleção final mostra isso. Todos os outros coordenadores de projeto são norte-americanos, sou a única estrangeira da lista.

O que mais me encanta na proposta é que não se trata de uma temporada de férias exóticas - o objetivo é mudar a vida das pessoas a longo prazo e o tempo que cada coordenador de projeto passará na Tanzânia representa apenas uma parte do nosso envolvimento. As famílias que serão treinadas na Tanzânia ficarão encubadas por 5 anos e a intenção é garantir melhorias permanentes e consistentes. Como tanto falamos em discussões sobre sustentabilidade, não se trata de filantropia nem de assistencialismo - trata-se de um modelo eficiente e eficaz, pessoas qualificadas e dedicadas, independência (e quem sabe interdependência) para as pessoas que serão treinadas e de sustentabilidade dentro do core business.

Esta semana participarei do treinamento em Boston. Vou conhecer minha equipe, me preparar para a temporada na Tanzânia, conhecer detalhes sobre a estrutura e minhas atribuições. Estou super animada e um tantinho nervosa, devo confessar. Li bastante sobre agricultura para adquirir um vocabulário técnico e pretendo absorver o máximo de informações. Estou ansiosa para conhecer as pessoas e para ter a primeira impressão de como será nossa interação - pelo perfil dos participantes, há uma grande chance de se formarem equipes de alta performance mas isso dependerá muito da sinergia que conseguiremos estabelecer.

Entre tantas coisas acontecendo, a sensação de que estou seguindo exatamente o caminho que devo seguir é indescritível. Estou virando minha vida de ponta-cabeça, vivendo grandes mudanças. Mas estou totalmente segura sobre este caminho e tenho a sensação de que o universo tem conspirado para concretizá-lo. O encaixe em meu momento de vida tem acontecido perfeitamente e todas as dificuldades tem sido contornadas com suavidade.

Butterflies in my stomach :)
Até breve!

Para saber mais (em inglês):
http://www.2seeds.org/

Pp. Muitas pessoas tem se mostrado preocupadas com a minha segurança. Ainda não sei exatamente para onde vou então não posso tranquilizá-las com informações sobre a região. O que posso dizer é que tudo na vida envolve riscos e por tudo que pesquisei não estou indo para um lugar extremamente violento. É inegável que a questão dos estupros associada aos altos índices de infecção por HIV preocupa qualquer mulher (e tem preocupado os homens maravilhosos que fazem parte da minha vida). Mas tomarei todos os cuidados possíveis e me cercarei de informações. A exposição ao risco existe na Tanzânia ou no Brasil, farei o melhor para me proteger enquanto faço um bom trabalho.

sábado, 10 de abril de 2010

Tanzânia


Hoje vou falar um pouco sobre a Tanzânia. Quando digo que estou indo para lá quase todo mundo corre para olhar no mapa que lugar é esse - confesso que eu também tive que pesquisar bastante sobre o país quando decidi me candidatar ao 2Seeds.
A primeira distinção essencial é: Tanzânia, Tasmânia e Transilvânia são países diferentes que ficam, respectivamente, na África, na Austrália e na Europa. Os nomes se parecem mas para minha sorte, e de todos os outros membros da equipe, não precisarei fugir do demônio da Tasmânia nem usar colares de alho para me proteger de vampiros.

A Tanzânia fica no leste da África, tem fronteiras com Quênia, Uganda, Ruanda, Burundi, Congo, Zâmbia, Malaui e Moçambique, além do oceano Índigo (sentido anti-horário).
O idioma oficial é o Swahili (origem Bantu) paralelamente a dezenas de dialetos, inglês nos órgãos oficiais e árabe em Zanzibar (parte insular do país). Comprei um Swahili Phrasebook esta semana para tentar aprender ao menos expressões simples como "bom dia", "boa tarde" e "boa noite" já que considero um sinal de respeito cumprimentar as pessoas em seu idioma antes de pedir que elas se desdobrem para se comunicar comigo em uma língua que eu entenda. Aliás, esta é minha melhor dica de viagem - nos 4 meses que mochilei pela Europa, este hábito me permitiu contar com a boa vontade de franceses, húngaros, gregos e pessoas de outras várias nacionalidades que não falavam inglês, português, espanhol ou alemão. Mesmo quando o idioma era tão desconhecido que nem as letras eu conseguia entender (na Grécia, entender a palavra "Atenas" no letreiro do trem era um grande desafio), o cumprimento no idioma da casa era o primeiro passo para a mímica que se seguia.
Voltando à Tanzânia, na parte continental do país há uma distribuição equilibrada entre cristãos, muçulmanos e seguidores de religiões africanas - apenas Zanzibar é majoritariamente muçulmana. Eu torço para que isso me livre de usar véu enquanto estiver por lá - essa foi uma das minhas curiosidades quando pesquisei sobre a Tanzânia mas devo dizer que a maioria das fotos que vi não tinha mulheres.
De acordo com o Lonely Planet, meu guia de viagem e grande companheiro, mulheres viajantes são bem aceitas na Tanzânia. O país se parece com o Brasil nos comentários sobre a receptividade das pessoas, todos dizem que os tanzanianos são bastante abertos e sorridentes. Há cerca de 120 diferentes grupos étnicos no país, algumas tribos nômades, e aparentemente a convivência é harmoniosa e a riqueza cultural é motivo de orgulho. Justamente por isso há muitos refugiados na Tanzânia, vindos dos países da fronteira onde conflitos por etnia são bastante frequentes.
A colonização da Tanzânia, assim como de toda a África, ocorreu de forma totalmente irresponsável e a independência foi conquistada em 1963 (foi colônia alemã até a 2ª Guerra e da Inglaterra até a independência).
Politicamente, há denúncias de irregularidades a cada eleição apesar de se tratar de uma democracia - realmente seria difícil considerar uma democracia plena um país com enormes problemas sociais.
No quesito saúde, tudo é um problema. Ao pesquisar as vacinas que devo tomar, a lista é tão grande que mal sei por onde começar. O risco de infecção é considerado muito alto para hepatite A, febre tifóide, malária, praga, esquistossomose e até para raiva. De quando iniciei minhas pesquisas até agora, os dados sobre infecção por HIV já passaram por duas atualizações e giram em torno de 6,2% da população - para termos uma base de comparação, no Brasil giram em torno de 0,6%. É bom lembrar que, em toda a África, a imprecisão desses dados é bastante considerável por motivos estruturais e religiosos - normalmente os índices reais são bem piores que os índices oficiais.

O Kilimanjaro, pico mais alto da África e famoso nas discussões sobre aquecimento global por estar perdendo sua "neve eterna", fica na Tanzânia. Aparentemente é o pico mais alto do mundo em que há sinal para celulares GSM - não sei a relevância disso mas havia bastante entusiasmo nesta informação quando a encontrei. Há regiões para safaris fotográficos, praias desertas (muitos piratas no mar), uma região de lagos e o clima varia do tropical ao temperado (nas montanhas).
Sobre música e dança (assunto que muito me interessa) há muitos ritmos percussivos. Uma curiosidade é que Freddie Mercury era tanzaniano de Zanzibar.

Estou bastante otimista em relação à minha adaptação ao dia-a-dia tanzaniano. Quando li o blog da equipe que esteve em Korogwe ano passado, me diverti com as fotos dos americanos loirinhos de Harvard conhecendo pela primeira vez um país em desenvolvimento, com enormes dificuldades para chupar laranjas da maneira que nós fazemos isso e sofrendo para jogar uma pelada, descalços, com crianças de 10 anos de idade. Acho que ser brasileira pode me ajudar um pouco, tanto pela nossa diversidade quanto pelos cuidados que naturalmente tomamos viajando pelo Brasil. Sam e Jesse, os dois americanos que escreveram o blog do Korogwe Project, fizeram um excelente trabalho. Espero conseguir fazer o mesmo.
Quanto à agenda, já tenho visto e passagens para o treinamento em Boston no fim deste mês. Lá devo conhecer minha equipe, aprender um pouco sobre agricultura orgânica e receber diversas outras informações sobre minhas atribuições - com sorte alguma indicação sobre para onde vou e quando viajo.

Post-post. Durante esta semana pude sentir a repercussão que participar de um projeto como este traz para a sua vida. Vi meus amigos maravilhosos me encorajarem, vi muitas pessoas preocupadas com a minha segurança, tive que explicar a outras pessoas porque me candidatei ao projeto e porque estou tão feliz em ter sido selecionada. Algumas respostas me fizeram sentir que terei muita companhia na Tanzânia, de pessoas fantásticas que estarão ao meu lado em energia e pensamento. Obrigada a todos vocês!

domingo, 4 de abril de 2010

Máquina de desencalhar baleias

Olá a todos! Começo hoje minha vida de blogueira. A máquina de desencalhar baleias é um sonho antigo que carrega minha vontade de mudar o mundo e criar uma realidade bem mais colorida e bonita do que esta que estamos vivendo.
Sempre fiquei triste com as baleias encalhadas na praia e sempre tive a certeza de que, com recursos e muito empenho, seria possível salvá-las daquela situação. Mudar o mundo é como desencalhar baleias: uma tarefa árdua que a maioria das pessoas diz ser impossível, mas que vale cada gota de suor que cada um de nós gasta tentando. O mundo é um conjunto de realidades, não uma verdade única e absoluta. Mesmo que não possamos mudar todas elas ao mesmo tempo, podemos tentar criar realidades mais bonitas em muitos pedacinhos de mundo.

Ontem eu soube que fui aprovada para o 2Seeds Network, um projeto de sustentabilidade que funciona como uma incubadora para promover o desenvolvimento de regiões pobres. Em breve eu irei para a Tanzânia como integrante de um time que buscará soluções e implementará um projeto de agricultura social e orgânica.
Vou escrever muito sobre a Tanzânia e sobre o 2Seeds nos próximos blogs. Apenas para começar, a Tanzânia está entre os 10% de países com menor renda per capita do mundo, tem problemas enormes de saúde (6º país do mundo em infecção por HIV), praticamente nenhuma infraestrutura e 80% da população trabalhando no campo, plantando, a maioria para garantir a própria subsistência. As pessoas não tem acesso a nenhum tipo de tecnologia, usam técnicas rudimentares na agricultura (o que deixa a terra pobre em nutrientes) e espalham as sementes indiscriminadamente pelo solo. Com o agravante dos períodos de seca que se sucedem no país, muitas pessoas não conseguem colher o suficiente para alimentar suas famílias e a fome é um problema recorrente.
O objetivo do projeto é promover a segurança alimentar dessas pessoas e garantir que elas tenham o suficiente para comer e um excedente para comercializar e investir na sua plantação. As equipes que irão à Tanzânia (eu farei parte de uma delas) serão responsáveis por treinar os agricultores e viabilizar a estrutura necessária para o aumento de produtividade. O primeiro ano do projeto garantiu um aumento de 250% na produção, a expectativa é de que esse aumento possa chegar a 500% se houver chuva suficiente.
O 2Seeds é uma organização norte-americana apoiada por parceiros na Tanzânia dedicados ao projeto. A união das 2 sementes, o expertise americano (e aqui me refiro à equipe norte-americana e a esta brasileira que agora é parte da equipe) com a força de trabalho tanzaniana, certamente proporcionará melhores condições de vida para uma parcela da população que não tem acesso a qualquer tipo de incentivo.

Eu estou muito feliz de ter sido selecionada e de fazer parte do projeto, é um objetivo que busquei por toda a minha vida e que se encaixou perfeitamente neste momento. Minha oportunidade de colocar em prática tudo que acredito e tudo que aprendi.
Terei mais informações em breve sobre a agenda do projeto e espero contar com todos vocês para viabilizá-lo e disseminar a idéia, para que possamos juntos espalhar essas sementes e começar a construir a nossa máquina de desencalhar baleias.

Para mais informações sobre o projeto, acesse (todos em inglês):

http://www.2seeds.org/
http://thekorogweproject.com/
http://thekorogweproject.blogspot.com/