2012 está chegando ao fim, meu terceiro ano
na Tanzânia e com isso meu terceiro tudo na Tanzânia: aniversário sem dança
(mas este ano teve bolo), Natal sem ceia (mas com pilau, arroz com especiarias,
depois de uma missa de 6 horas), Reveillon sem fogos (mas com praia pelo
segundo ano seguido), dia dos namorados sem namorado (neste caso sem mas :S), final do campeonato brasileiro sem TV (mas com internet pra
saber os resultados), carnaval sem samba (acho que este deve ser ainda mais
difícil que o dia dos namorados...).
Eu sei que parece óbvio que se estou há
três anos na Tanzânia vivi três vezes o ciclo do ano na Tanzânia, mas pra quem
está longe essas coisas acontecem desconectadas e as duas frases que parecem
dizer a mesma coisa são sentidas de forma muito diferente.
2012 foi um ano de crescimento, de muita
reavaliação, de me posicionar de forma diferente, de viver de forma diferente,
de reavaliar parcerias. 2012 foi um ano de correções; para fazer melhor, ser
melhor; deixar pra trás coisas que um dia foram muito importantes e correr
atrás de outras que ficaram momentaneamente em segundo plano. Foi um ano de
novos erros e novos acertos, de reconhecer erros doloridos, realinhar
expectativas (work in progress), de
buscar.
Acho que desde que vim para a Tanzânia
apenas duas coisas jamais mudaram: as saudades que sinto de vocês e o desejo de
desencalhar baleias. Assim vou seguindo, e como este trabalho é feito de
pequenas vitórias, cada uma delas um pequeno movimento de uma pequena baleia, gostaria
de compartilhar algumas pequenas vitórias de 2012 com vocês:
1. Os alunos de Kijango, segunda
escola do projeto Magoma, comeram na escola pela primeira vez em suas vidas,
resultado de seu trabalho criando galinhas e produzindo ovos;
2. Os agricultores de Bombo
Majimoto produziram vegetais pela primeira vez e venderam em grandes mercados
da Tanzânia;
3. Os agricultores de Bungu
produziram e venderam, juntos, mais de cinco toneladas de vegetais;
4. Os agricultores de Kijungumoto
resistiram juntos à seca e plantaram 845 plantas de jiló em sua primeira
produção de vegetais;
5. Alguns de nossos agricultores
de Bungu e Magoma viram o mar pela primeira vez ao lideraram um de nossos
meet-ups para outras organizações em Dar es Salaam, uma iniciativa do projeto
Masoko;
6. Os agricultores de Lutindi, também
pela primeira vez, coordenaram um calendário para produção coletiva que os
permitirá colher consistentemente vegetais de alta qualidade. A expectativa é
que nossos parceiros colham mais de 200 toneladas de vegetais em uma única
estação;
7. Shabani (13 anos), um dos mais
dedicados estudantes do projeto Magoma, liderou pela primeira vez treinamentos
para nossos parceiros de outros projetos, todos adultos, através do projeto
Korogwe. O garoto, que acaba de se formar no ensino fundamental, agora diz com
um sorriso no rosto que quer ser professor;
8. Nossos agricultores de
Kwakiliga plantaram a mais bela shamba-darasa (fazenda-escola) de mandioca que
já vi, cantando e fazendo piada enquanto trabalhavam sob o sol escaldante mesmo
estando com os corpos magrinhos depois de três anos de seca;
9. Como uma organização focada em
desenvolvimento de capital humano, tivemos nossa primeira sessão de feedback
para os coordenadores de projeto e com ela criamos estrutura para seu crescimento
ao longo do ano;
10. Talvez nosso maior sucesso, presente em muitos dos itens acima,; coordenamos
uma transição eficiente entre grupos de coordenadores de projeto (cada grupo
fica na Tanzânia por aproximadamente um ano), o que permitiu que os novos
coordenadores de projeto se adaptassem a seus postos sem que perdêssemos momentum com nossos parceiros.
Logicamente que todas essas pequenas vitórias
são apenas um começo, mas justamente por isso, por serem um começo, é que são
tão importantes.
Que 2013 nos permita mais começos e mais
meios!
Feliz Natal e um 2013 de oportunidades para
todos :)